domingo, 9 de janeiro de 2011

A iniciação # 4



Setembro 2010. acredito que nunca se esteja verdadeiramente preparado.

Falta sempre qualquer coisa. Experiência, sabedoria, às vezes paciência.
Ao empreender uma viagem/expedição cujo principal intuito seria observar aves sentimo-nos descobridores ofuscados por uma terra misteriosa. Confesso que os meus conhecimentos em Ornitologia não são muitos. Por isso, pedi ajuda a quem sabe e faz destas saídas pelágicas um modo de vida. Contactei a empresa Birds and Nature e coloquei imensas perguntas, umas mais disparatadas que outras, um verdadeiro manancial de interrogações sobre a observação de aves e os melhores locais para a efectuar. Durante o telefonema fiquei a saber que do outro lado estava alguém que já pertencera à SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves), e pensei, “este Guia Humano só pode estar a altura do desafio”. Sem razão aparente, apelidei a pessoa com quem estava a falar como sendo o meu interlocutor junto das aves: O meu Guia Humano. A conversa sobre o tema gerou empatia necessária para marcarmos uma saída pelágica. Depois de desligar o telefone tentei conter o entusiasmo. Tinha que ter calma. Nada me garantia que, lá por ir acompanhado por um mestre, eu fosse bom aprendiz. Tampouco poderia adivinhar se iria fotografar muitas aves ou avistar muitas raridades. Sim; uma coisa é observar aves, outra completamente diferente, será fotografar com o mínimo grau de proximidade sem ser denunciado. São patamares de observação diferentes. Completamente. Aliás, nos tempos que correm, onde impera a era do digital, é fácil tirar uma fotografia, mais difícil será observar ou fotografar aves (Birdwatchers), se não tivermos a paciência, o empenho e o estudo necessários para tal tarefa. Eu gosto de fotografar mas com as devidas distancias que o material e a experiência obrigam. Sei de antemão que os pássaros não ficam parados num ramo, à espera que nos decidamos qual é o melhor enquadramento. Vão à sua vida e fazem eles senão bem. Eu fazia o mesmo; fugia a sete pés se visse uma árvore que não era árvore nenhuma, a olhar para mim com um olho enorme, que não era olho coisíssima alguma.

Continuando. Apenas com pesquisa e investigação conseguimos obter resultados minimamente satisfatórios. Isto porque, só após incomensuráveis horas de olhos postos no ar (e não só) poderemos ter uma identificação oportuna e assertiva. Mas mesmo assim a margem de erro é considerável. Às vezes ficamos sem saber quem é quem. Até recorrendo a um guia de campo, onde se fazem constar grande parte dos passeriformes que ocorrem em Portugal surgem dúvidas de catalogação. A fotografia é o melhor registo para tirar as teimas. Se formos persistentes e com alguma dose sorte podemos almejar um registo de qualidade razoável. Como não me considero nem um eficaz observador nem um bom fotógrafo, entretive-me a contar os dias para viagem; onde do ar tudo podia acontecer.

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