segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O Grande Pavão nocturno - Saturnia pyri





No final de Abril do ano passado estava de férias no calmo Resort do Monte do Azibo. As noites ainda eram frias e muitas vezes acompanhadas por chuva, acentuado os contornos bucólicos que embelezavam a deslumbrante albufeira que se anunciava a escassos metros dos bungalows.


Já passava das 23:00 e estava sentado no sofá, em modo de "delete", entretido a apagar fotografias da máquina. Foi então que me pareceu ouvir bater à porta. Um som que se fez ouvir seco e tímido uma única vez. Talvez fosse alguém da recepção, algum vizinho falador ou uma alma desamparada.


Levantei a cortina mas não vi ninguém e depressa concluí que estava a ouvir coisas - facto nada invulgar por sinal. No entanto, passados alguns minutos, o som voltou a manifestar-se; uma, duas vezes e cada vez mais intenso e desconcertante, como se fosse um animal diabólico a esgadanhar na madeira. Podia ser uma ave nocturna, ou um morcego, ou até um predador de sonhos em busca de companhia. Num pulo abri a porta e deparei-me com uma enorme traça, melhor dizendo: A maior borboleta da Europa - o grande pavão nocturno - Saturnia pyri que se sentia imensamente atraído pela luz que emanava da casa.

Após esta experiência não tive sono nem vontade de apagar memórias, e fiquei ali a contemplar o seu bater de asas acelerado até que a borboleta desapareceu na boca fria da madrugada. Na noite seguinte ainda montei uma luz e um pano branco na esperança que a borboleta voltasse mas a sorte só bate uma vez à mesma porta.

Com quase 18 centímetros de envergadura alar nunca tinha vista uma borboleta assim. Sendo a maior borboleta da Europa, vive apenas durante poucos dias e não se alimenta porque não dispõe de armadura bucal. Ao fim de 10 meses o processo de metamorfose é concluído e a borboleta sai do casulo para depois esticar as asas dando inicio ao seu voo triunfal. 




















domingo, 28 de fevereiro de 2016

12 dias de Cogumelo




O natal já passou e este foi um presente que muito apreciei. Trata-se de produto alimentar da marca Gumelo. Há muito que tinha em mente filmar um time-lapse de um cogumelo; assim juntei o útil ao agradável e meti mãos à obra.



Durante 12 dias filmei o evoluir deste organismo (PLEUROTUS OSTREATUS) em minha casa. 
Para tal, foi estrategicamente colocado num canto da sala, onde não incidisse luz directa mas com claridade suficiente e temperatura amena para frutificar Para fomentar o seu crescimento foi borrifado com água duas vezes por dia. No final do processo foi retirado da caixa e cozinhado num apetitoso refogado. Com esta experiencia aliei vários prazeres, a fotografia, o vídeo e a gastronomia num momento único. Recomendo vivamente esta prática e vamos ver se tenho a sorte de obter uma segunda colheita.






quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O Impressionismo do Visitante






O Visitante é surpreendido pela conjugação fantástica dos elementos naturais. No silêncio da paisagem levanta-se um bando de íbis enquanto o arrozal dança nas mãos calejadas do vento. O Visitante não sabe que faz parte de um quadro impressionista anónimo e efémero. Um quadro que existe apenas durante alguns segundos, numa paisagem viva de uma moldura invisível, onde os protagonistas desaparecem logo após a curva do espanto. O Visitante lembra-se de ouvir dizer que "as coisas boas não duram nada". 4 segundos depois, o quadro impressionista desapareceu, levando com ele as aves, o arrozal, a água e o vento. O Visitante limpa com um lenço o relógio de pulso não se interessando pelo peso das horas. Do quadro apenas ficou a recordação do pó que se levantou sobre olhar e o sabor a terra que ainda tempera os lábios do Visitante. Do momento vivido, esquecem-se as dores, permanece a leve impressão que ao vento ficou qualquer coisa por dizer. O Visitante lembrou-se de Deus pela primeira vez no dia e esperou sentado na terra remexida pelo regresso da cor. 

Não era preciso tanto

Não era preciso tanto sofrimento, tamanha dor ou insondável medo, para acreditar em Deus, e nos seus caminhos indecifráveis. veredas inscrit...