sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Fantasma Branco # 1


(21:00 – Lua cheia, céu estrelado, temperatura exterior, 18º)


De noite aberta, o caminho encurtava-se ante a aproximação do próximo desafio. Para mim era a concretização de um desejo antigo, algo que polvilhava de encanto o meu imaginário nocturno; ver de perto o maravilhoso “Fantasma Branco”. No primeiro quilómetro da estrada principal, já no interior da Ponta da Erva, o espectáculo anunciava-se único e também assustador devido ao sibilo que ecoava pelos campos, assemelhando-se ao barulho de um pano a rasgar.

O primeiro avistamento surgiu com surpresa. Em cima de uma estaca de madeira que sustentava uma vedação de arame farpado, um espectro branco voou como se fosse um véu de noiva caído do altar. Com cuidado para não incomodar o frágil equilíbrio nocturno, o carro avançou devagar iluminando o caminho com os faróis. A menos de 40 metros do alvo, a 30 metros, a menos de 20 metros, e depois a sensivelmente a 5 metros, não resisti e empoleirei-me no parapeito da janela do carro. O meu Guia Humano desligou os faróis da viatura durante alguns segundos com o intuito de realizar uma aproximação sem nenhum distúrbio. Guinou o carro para a esquerda até a uma vala próxima do poiso do “Fantasma Branco”. Os faróis acenderam-se; primeiro os mínimos, depois médios, por fim os máximos. Tão perto e magnífico, lá estava ele. Assustadoramente rodou a cabeça 270 graus para a esquerda, fazendo-me recordar a enigmática jovem do filme Exorcista no seu leito de possessão. No preciso instante em que me preparava para focar e depois disparar, algo me fez hesitar. No visor da máquina o alvo estava perfeitamente focado e parecia entretido com qualquer coisa que fugia à minha percepção. Ao contemplar aquele cenário nocturno fiquei petrificado como se uma cãibra me tivesse atingido a mão direita. O “Fantasma Branco” oscilou a cabeça para a direita e para a esquerda, para cima e para baixo. 


Contei até dez e mexi os dedos para comprovar as minhas faculdades motoras. Ainda assim, não fiz disparar o obturador da máquina com medo que o som pudesse assustar para sempre aquele encanto. Optei por algo mais natural mas ao mesmo tempo menos consensual. Imitei um rato. Mas não um rato qualquer, um rato caseiro, escondido num carro, preso por uma curiosidade móvel. O meu guia humano olhou para mim de soslaio. Eu sorri. Ele baixou a cabeça para não rir. E continuei na esperança que tal manobra chamasse atenção do “Fantasma”. Nunca pensei que surtisse efeito a minha imitação de roedor. Após vários “ic ic” que tinham tanto de estranho como de absurdo, o “Fantasma Branco” não achou completamente descabida minha prestação e decidiu investigar. Olhou-me, tentando descortinar que som seria aquele. Depois pedi desculpa à noite ante tal intromissão e fotografei. 

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