terça-feira, 12 de julho de 2022

Coruja-do-mato desde a janela do meu quarto

Hoje, pelas 03:15 da manhã, estava em teletrabalho no turno da madrugada, quando ouvi uma vocalização familiar. Abri a janela e tentei encontrar o bicho mas sem sucesso. Voltei para o computador, passados poucos instantes as vocalizações aumentaram de intensidade. Fiquei de alerta. Da minha secretária consigo ver a rua e reparei num vulto a passar junto aos candeeiros do jardim. Dei um pulo e espreitei novamente por entre as cortinas. Lá estava a carismática e imponente coruja-do-mato (Strix aluco), poisada num poste do outro lado da rua. Longe. Foi um minuto de sonho, no qual tive o privilégio de observar esta ave desde a janela do meu quarto. A dificuldade para focar foi grande e consegui apenas duas fotos antes de a coruja ir à vida dela e eu voltar ao trabalho. Por Carcavelos, a construção floresce, o que faz com que este predador nocturno perca habitat. O ano passado apenas consegui gravar o som de algumas das suas vocalizações por aqui. Este ano consegui uma fotografia possível ou sofrível, contudo, o que conta, é este momento que ficará guardado na memória das noites felizes.






segunda-feira, 11 de julho de 2022

Vizinhos

 




do rés do chão aos andares cimeiros floresce humidade

os gatos já não falam com os fantasmas indisciplinados,

os roupões tingidos ficam dias nos estendais a adiar a morte,

as cartas das pensões amontoam-se nas caixas do correio.  

 

das janelas fechadas fazem-se máscaras sem rosto,

dos beijos apartados às mãos a cheirar a álcool,

toda a distância do afecto é ampliada pelo olho de boi;

da porta espia-se a ausência de quem desespera.

 

de quando em vez a luz da escada acende-se,

as dobradiças de ferro gritam por óleo,

fecha-se o dia após 25 segundos de luz,

derramada indecentemente no corrimão solitário.

 

a ambulância levou os meus queridos vizinhos,

a contragosto, num arrastão doentio e veloz,

nesse dia ouvi dizer: nunca vivemos nada assim!


M22

  Uma lágrima faz estremecer o vinco do lençol imaculado como uma flor ainda sem nome, há dias em que as palavras são audíveis rasgos ...