terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Foi apenas um bando de dias




Foram tantos os dias de asas cinzentas e às vezes coloridas   
que passaram voláteis sobre o céu das expectativas,  
em bandos desordeiros de desejos sincronizados; 
muitos não chegaram ao seu destino, ficando a meio caminho,  
entre a rebentação das nuvens e a  terra ferida.  
outros houve, que floriram nas mãos dos sonhadores 
fizeram-nos cantar sem saber porque sorrir, 
sangraram a lágrima e temperaram o músculo do afecto.  
e porque as nuvens não sabem andar sozinhas  
um a um, largámos esses dias,  
tão felizes daqueles que nos deixaram voar.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Roda da Vida



Na roda da vida são tantas as reviravoltas, mais as voltas que a vida dá, às vezes de cabeça para baixo, e tantas outras de pés e planos trocados, mas que seja sempre com um céu próximo de esperança e outras cambiantes de um novo amanhã.

A todos um Feliz Natal! Saúde!

domingo, 22 de dezembro de 2013

O mapa da casa






No alto frio das tuas mãos
ofereci-te as paredes solitárias da minha casa,
onde os fantasmas de cal habitam livros de maus hábitos
e seres mudos de traço cinzento irrompem das paginas por escrever;
do meu canto onde me escondo mostrei-te os degraus que subo e as dores que desço
os corredores da noite mansa e as pedras de água vigilante,
a humidade das palavras que caem do tecto sem que ninguém lhes toque,
os livros despidos de pele e os espíritos vegetais de fotografias antigas.
Depois da estrofe conduzi-te pela fala da música:
toquei-te na ponta do teu dedo para o guiar na melodia,
tão nocturna como foram os nossos afectos desarmados
a medo…
ofereci-te um segredo quente na ternura de um café
em silêncio convidei-te a voltar,
quem sabe um dia, até depois,
agora que saíste...
a minha casa deixou de aparecer no mapa
quando nesta cidade voadora
paira no ar apenas um ponto e uma porta.  

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Palavras Nómadas / Natal com livros



Aqui fica um convite para uma tarde cultural:

Sessão de poesia Palavras Nómadas/NATAL COM LIVROS. 
Evento com o patrocínio da Embaixada do Brasil.
É já no próximo sábado, dia 21 de Dezembro,  às 17 horas no Espaço Guilherme Cossoul de Campolide, (próximo das Amoreiras) situado na rua Professor Sousa da Câmara, 156, em Lisboa. 

Apareçam!

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Ilha-mulher




Vejo-te deitada no paralelo imaginário dos dias em que não te vejo.
Levitas na dimensão infinita dos sonhadores;
A tua nudez é uma ilha onde a lua repousa sobre a anca esquerda.
Chamo-te Ilha-Mulher. Dou-te um nome secreto e proibido. Amor.

Tu não respondes. Porque existes apenas nos dias em que não te vejo.
Um suspiro rouco. Que multiplica por mil as bocas suaves de veludo. A busca.
A tua boca entreabre-se um pouco. O suficiente para te manter em segredo.
Beijo-te no lábio superior e oiço uma semi-sílaba a florir.

Do seio direito recrio círculos concêntricos, no qual desenho o mapa dos teus afectos
A tua juventude em fogo e carne viva explode nas crinas dos cavalos felizes
Enquanto eu... sou homem de tantas ficções em palavras com gás.
Estou aqui mas tu não estás. Existimos amantes nos dias em que não te vejo.

Do teu cabelo escorrem fios de ouro.
O teu corpo eléctrico contorce-se de fome rápida pelo desejo
Num cruzar de pernas impaciente e luxuriante;
As tuas mãos em "v "deixam antever o regaço molhado pelo suor.

Tocas-te. Eu ignoro o sulco dos dedos e desvio o olhar.
Persigo o rumo pelas tuas pernas, lentamente, pela parte de dentro, num beijo só
Nesta dimensão húmida sinto-te vibrar na afinação imaterial dos corpos.
Tu olhas para o meu fim.

Os teus olhos são os meus dias felizes. Não te queria dizer isso nunca.
Se o repetir sei que te posso perder. O teu corpo une-se na calda e no arrepio,
Qual fruto maduro e apetecível num rossio labiríntico,
Lentamente a língua feroz deixa de obedecer ao comando férreo das mãos cegas
Sem saber ao certo o que faço entre a margem do períneo e a tentação da púbis.

Sou náufrago de silêncios em síncope de prazer
Perco-me a norte da ilha mulher e deixo-me ir
E se num novo dia me pedissem para voltar
Por certo reinventaria tudo o que não escrevi até então.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Aquela noite



Na última noite fomos amigos com conversa de amantes,
fomos ladrões de mãos com gestos de pescadores de sonhos;
na última noite fomos homem com conversa de mulher e mulher com conversa de homem,
fomos boca e lábio num corpo sem ser nem boca nem lábio, apenas palavra;
naquela última noite fomos mão quente e intimidade sem toque,
fomos o teu olhar de esfinge e a minha voz que por instantes não foi minha nem tua,
fomos fogo, fomos céu e rimos tanto "do susto que o cão nos deu"
naquela noite falámos dos nossos equívocos,
imperdoável e inesquecível desengano.

Na última noite fiquei sem saber a cor dos teus olhos,
nem tu ficaste a saber a cor dos meus;
fomos unha e dedo, sem ser carne nem medo ou pé,
e assim, partilhámos segredos e desenhámos sorrisos com pedras estrelares;
na última hora fomos tecto, cama e chão sem nunca nos abraçarmos
ou despirmos a pele do que não somos,
que isso é coisa para quem morre e ama devagar;
no último minuto fomos dias e anos de existência plena sem nunca nos vermos
porque isso é coisa de quem cuida da saudade,
como quem rega uma linda flor à janela e fala contigo como se falasse com ela;
nesta última noite seremos, nem mais nem menos, tudo isto
sem ser nada do que foi, até agora, desenhado no areal da praia.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Lançamento do livro "As aves pela minha objectiva" de José Frade

Como é bom partilhar bons momentos na companhia de boa gente. Foi com muito orgulho que ontem assisti ao lançamento do livro "As aves pela minha objectiva" do meu amigo José Frade.
Homem com uma capacidade de sacrifício enorme, acreditando sempre no melhor que a vida tem para dar. Que venham mais aves, livros e outros sorrisos. Saúde Frade!











quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Como quem sobe a Serra à procura de uma Estrela



Rodeado de bons amigos embarquei em mais uma viagem; desta feita o destino foi a Serra da Estrela.
Traçámos como objectivo principal fotografar algumas espécies da avifauna e assim foi.
Durante dois dias acordámos de madrugada e enfrentámos temperaturas a rondar os - 5 e - 6 graus, depois foi aquecer a alma e iniciar demanda por vários pontos marcados no mapa: Unhais da Serra, Barco, Vale do Rossim, Penhas da Saúde e Torre.



De madrugada, nas Penhas da saúde, as miragens que nascem do nevoeiro fazem parecer o topo dos sonhos um imediato alcançável.


A neblina deixa antever os certos movimentos. 
Quantas máquinas voadoras consegues ver?


A serra ainda despida da candura do seu manto mas com vestígios de mãos de fumo e degelo. 


O acordar lento dos seres incógnitos que habitam outra dimensão serrana.


A pele da Estrela a serpentear pela estrada, e como qualquer estrada que sabe para onde vai,  não devia ter nome. 

  
Da Torre desce a sombra dos amantes, como querem eles tocar nos pés do céu?


No Vale do Rossim, se não fosse o gelo, um mergulho na ficção era um convite inevitável.


Pelo caminho verificámos uma quantidade considerável de bagas vermelhas; a grande oferta deste fruto talvez tenha contribuído para  que os bichos andassem mais dispersos. 


 O gelo sobrevive ao calor da terra e às rasteiras que os espíritos vegetais por aí plantam.


Independentemente do esforço e dedicação, na fotografia como tudo na vida, a sorte é um factor incontrolável da equação. A boa-ventura dá muito trabalho àqueles que acreditam que os pés também servem para voar.


Tinha o dia nascido à pouco tempo quando o Cruza-bico (Loxia curvirostra) começou a reclamar o topo dos pinheiros nórdicos.




O Tordo-ruivo (Turdus iliacus) compreensivelmente tímido, expiava as nossas reais intenções, por isso nunca fiando.


Quando chegámos à Torre encontrámos na berma da estrada, entretida entre o gelo e o granito, a discreta Escrevadeira-das-neves (Plectrophenax nivalis)







Se os ossos não me doerem, um dia destes voltarei a sentir o frio cortante na ponta dos dedos e o cheiro de uma lareira quentinha.




Não era preciso tanto

Não era preciso tanto sofrimento, tamanha dor ou insondável medo, para acreditar em Deus, e nos seus caminhos indecifráveis. veredas inscrit...