domingo, 23 de outubro de 2022

maturar doce veneno

 





De soslaio irrompeu o riso da serpente 

torso verde e escamas de terra,

a dor no pé - fino agulhar do dente,

ela sorriu sem sorrir na paz que há na guerra.


recordo o dia em que cai no seu encanto,

escorregadia foi a queda depois do amor, 

anos a um canto, sangro ainda o veneno,

de um adeus fêmea.


domingo, 16 de outubro de 2022

27 cêntimos

 




A noite ganhava espaço ao cansaço de outubro,

sendo a farmácia um oratório de fulgor manso,

não havia espera nem senhas para retardar a fuga,

apenas duas pessoas com as suas maleitas.


um senhor fazia contas e a menina farmacêutica ajudava;

o senhor fitava o vazio entre mãos e o receituário, 

escavava preocupado o singelo porta-moedas, 

derramando na bancada o tilintar dos cobres e da míngua. 


a menina com voz terna e olhos de santa sem altar

disse: "não se preocupe são vinte e sete cêntimos!"

com ternura juntou as moedas num montinho,

por fim, uma luz de cumplicidade única, iluminou rostos.


 o senhor ficou com menos uma dor das muitas com que caminhava

e foi.



M22

  Uma lágrima faz estremecer o vinco do lençol imaculado como uma flor ainda sem nome, há dias em que as palavras são audíveis rasgos ...