A noite ganhava espaço ao cansaço de outubro,
sendo a farmácia um oratório de fulgor manso,
não havia espera nem senhas para retardar a fuga,
apenas duas pessoas com as suas maleitas.
um senhor fazia contas e a menina farmacêutica ajudava;
o senhor fitava o vazio entre mãos e o receituário,
escavava preocupado o singelo porta-moedas,
derramando na bancada o tilintar dos cobres e da míngua.
a menina com voz terna e olhos de santa sem altar
disse: "não se preocupe são vinte e sete cêntimos!"
com ternura juntou as moedas num montinho,
por fim, uma luz de cumplicidade única, iluminou rostos.
o senhor ficou com menos uma dor das muitas com que caminhava
e foi.