sábado, 22 de maio de 2021

Carpintaria





nada sei de carpintaria nem de reflorestação,

mas com as tuas ferramentas de esculpir a madeira;

umas quantas chaves de fendas e um formão,

escavei uma cova com dois dedos de diâmetro.


das mãos fiz plaina e aparei arestas de um abismo de bolso

e na terra plantei um pequeno pinheiro, 

que um dia terá nome de Guerreiro,

bem por cima da tua janela,


onde assistias ao minguar dos dias,

ao evoluir dos invernos,

um dia, meu Pai, esta sombra será nossa!





sexta-feira, 7 de maio de 2021

Caligrafia





Na perfeita caligrafia da pele, 

escorre uma gota de flor em lágrima,

soltando aromas rosa de primavera cansada,

melodia das tuas letrinhas vegetais

em curvas delineadas com mestria

de quem amealha o pão com medo da falta.

 

Mãe quando escreves o teu nome no meu rosto, 

sou pétala ao vento nos teus olhos de seara.

 

quarta-feira, 5 de maio de 2021

2 segundos




neste quarto de dois passos tudo se agiganta,

tenho dias em que a cama me  engole,

em que a janela de vidro sujo pelas sacrifício da espera

projecta radiografias da minha imobilidade tentacular,

sou a desarrumação disforme e impessoal

que observa o evaporar da água deste copo espelho

não me incomoda a barba desgrenhada de arame velho,

nem estas olheiras de quem se endrominou em comprimidos,

nem a desarrumação dos livros empoeirados sem fala,

ou guitarra deitada na cama sem cordas  - quase mulher,

muito menos, não desgosto desta farda de pijama,

manchada pelo ócio e pela hipnótica alegria, se bem me lembro...

ontem, sim foi ontem, ver-te sorrir!

por 2 segundos, estavas à janela da cozinha a ver quem vive.

hoje quase tudo me parece inútil de tão promissora aragem.




Para a minha querida Mãe!


M22

  Uma lágrima faz estremecer o vinco do lençol imaculado como uma flor ainda sem nome, há dias em que as palavras são audíveis rasgos ...