domingo, 31 de janeiro de 2021

não mais um dia como este

 



como se descarrilassem comboios, 

afundassem cacilheiros,

desnorteassem aeroportos inteiros, 

assim morremos um pouco mais,

neste horto de números anónimos,

que deixa enlutado um país,

ajoelhado,

a chorar a perda dos seus filhos,

para um mal,

que grassa entre o intervalo dos aerossóis e o contacto,

num ceifar de vidas constante.


depois de me apagar,

espero pelo retorno da mensagem que a ave difundiu, 

entre a antena e vasto cinzento diário.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

O Senhor Fado

Houve um dia que uma voz me chamou

para junto de um circulo imaginário

de putos como eu, seduzidos

pela fogueira remanescente da luz e aplauso.


De birra feita não fui. 

Intimidado pelos olhares tranquei o beiço,

e contemplei ao longe aquele senhor mais alto que as outras cabeças,

de microfone na mão, a encantar uma plateia rendida 

da sociedade recreativa da Rebelva.


Depois de desarmar a teimosia vim a saber que era o Senhor Fado,

dono da voz que embalava as agruras de uma nação,

de canto firme e ao mesmo tempo capaz 

de esculpir paisagens sonoras intemporais.


Foi a primeira que assisti a um concerto,

recordo o Senhor Fado a cantar no meio de uma roda de putos,

num circulo luminoso onde crepitava a melódica poética;

hoje o frio é mais frio e a fogueira rasa os nossos olhos 

mas não se apagou o lume do fado muito menos a sua voz. 


Para o Senhor Carlos do Carmo.

M22

  Uma lágrima faz estremecer o vinco do lençol imaculado como uma flor ainda sem nome, há dias em que as palavras são audíveis rasgos ...