segunda-feira, 30 de abril de 2018

Cabo Sardão



Partimos de manhã cedo em direcção ao Cabo Sardão, freguesia de São Teotónio em Odemira, terra do meu Pai e um pouco minha também. Levávamos na bagagem esperança redobrada com o intuito de observar uma raridade recentemente avistada no local. A trepa-fragas ou trepadeira-dos-muros, uma pequena ave que orgulhosamente exibe  as suas asas carmim durante as movimentações pelos rochedos Chegámos cedo e iniciámos as buscas, contudo a procura tornou-se longa e infrutífera. Faz parte da história. Juntaram-se mais amigos, trocaram-se ideias e brincou-se sobre aos sucessos e os infortúnios destas lides. A ave não apareceu mas fizeram-se ainda mais novos amigos e isso é já é uma rara descoberta. 
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Lá em baixo a força da água alimentava-nos de respeito com os consecutivos rastos do tempo cravados na rocha. Rebentação. Renovada finitude dos reencontros entre a  água e a pedra. Tal como nós, os sorrisos que se trocam entre povos diferentes, tudo nos aproxima e nos afasta. As caras que julgamos novas, outras geometrias, máscaras de nós próprios. A redescoberta, a queda dos nomes no eco da memória. Novo é o nome que damos a um abismo. 
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Durante a estadia, o local foi visitado por muitos turistas que se sentiram maravilhados com a paisagem. E não é para menos. Almas repletas de mar. 













domingo, 29 de abril de 2018

Parque Nacional Manuel Antonio - Costa Rica


Na Costa Rica, dos parques nacionais visitados este foi sem dúvida, aquele que apresentava a maior taxa de turistas. Eram dezenas, sendo a maior parte americanos, reunidos em grupos, acompanhados por guias locais em lentas deambulações pelos trilhos do bosque. Ora, onde há muita gente, existe forte probabilidade para o ruído e parvoíce e isso não é bom para quem conta observar a avifauna. Talvez por isso, contámos muito poucas aves. O parque é grande e a floresta densa, os trilhos estão bem delineados no solo com estacas e cordas. Por razões de segurança, não é aconselhável sair dos caminhos nem tocar nos animais. Compreensível! Vimos várias espécies de macacos, sendo os macacos-capuchinho de cabeça-branca aqueles que se aproximavam amistosamente dos humanos, interagindo com curiosidade e confiança. Contratámos um guia que se revelou pouco útil. Conduziu-nos até aos macacos e levou-nos a ver as duas espécies de preguiças (dois e três dedos), uns gafanhotos, um lagarto e um caranguejo. Era provável que conseguíssemos ver estes bichos sozinhos, todavia optámos pela companhia deste senhor. Cordial e sorridente, passado um hora e meia, foi à sua vida com recomendações para visitarmos as praias, experiência que não podia deixar escapar - e lá fui eu para um revigorante mergulho no oceano Pacífico. Água estava quente, contudo o mar apresentava revolta ondulação. Depois de levar com duas valentes ondas no lombo, decidi secar a pele na areia e quando lá cheguei os guaxinins preparavam-se para assaltar as nossas mochilas em busca de comida. Enxotámos os animais e eles ripostaram mostrando os dentes para depois seguirem o seu caminho sempre desconfiados. Mas o melhor estava ainda para vir.!No caminho de regresso, depois de fazermos uma curva encoberta por cerrada vegetação, a Ana Frade deparou-se com inesperado encontro. À nossa frente apresentava-se um ocelote Leopardus pardalis, tão imponente quanto discreto. Paralisados pela descoberta, foram segundos de espanto e emoção contida. Estávamos a menos de 3 metros do poderoso felino e o animal caminhou confiante na nossa direcção. O respeito pelo bicho toldou-nos qualquer movimento mais brusco. Com calma baixei-me como sinal de respeito e também para ficar ao nível dos olhos do animal. O enorme gato arfava e movimentava-se com suavidade, controlando os seus passos, nunca desviando o olhar destes três humanos que embevecidamente o contemplavam. Ainda tirei oito fotografias, talvez as mais "valiosas" desta viagem. Nisto, com uma graciosidade silenciosa, o ocelote saltou do solo para o corrimão de madeira que dividia o caminho do bosque, mesclando-se no mato como parte integrante da vegetação e das secretas lendas. Quando mostrámos as fotos aos guardas florestais o espanto e a alegria foram generalizados - há muito que este felino não era avistado, muito menos fotografado com este grau de proximidade. Foi com um grande sorriso que regressámos à nossa base e confesso que ainda com um certo tremor, como sinal de deferência e de agradecimento para com a Mãe Natureza por aqueles segundos eternos.

Ainda hoje, sinto uma emoção especial quando revisito o instante em que o ocelote caminhou na nossa direcção.





Do maior para o mais pequeno. Estes coloridos gafanhotos destacavam-se da vegetação.


O caranguejo Gecarcinus quadratus estava bem escondido mas as suas cores chamaram-nos a atenção.


À entrada do parque este lagarto parecia ser o guardião do local, olhava-nos desconfiado das nossas movimentações.


A pequena lagartixa tomava banhos de sol tropical.


Algumas das poucas aves observadas

Black-hooded Antshrike Thamnophilus bridgesi


Sulphur-bellied flycatcher Myiodynastes luteiventris


Os assaltantes de mochilas os guaxinins ou o rato-lavadeiro Procyon lotor - se apanhavam um turista mais distraído era saque certo.


Os macacos-capuchinho de cabeça-branca Cebus capucinus não tenham vergonha nenhuma, aproximavam-se para ver o que lhes calhava em sorte, pousando para uma selfie, para de seguida verificar a qualidade dos smartphones. 







Pachorrenta, seguindo a lei do menor esforço, esta preguiça de dois dedos Choloepus hoffmanni, esperava que o sol muda-se de posição para se movimentar.  Nada de pressas. 




Por sua vez, a preguiça-de-três-dedos Bradypus tridactylus e a sua pequena cria, movimentava-se lentamente pelo tronco das árvores, mirando-nos com um olhar patusco.




Por fim, o esquivo e pouco colaborante  squirrel monkey Saimiri oerstedii, encontrava-se escondido por entre a vegetação, a espreitar estas manias cá de baixo, longe da curiosidade destes primos bípedes. 




Ao longe todas as ilhas voam.



sexta-feira, 27 de abril de 2018

Avenida Abril




Irrompia de cor a avenida maior das vozes livres,
a via estava desobstruída dos fosseis agora imóveis,
e dela desciam homens e mulheres de sol bravo
reivindicando o dia dos dias como bandeira maior.

O corpo amplo da avenida Abril
pertencia às vozes soltas e ao arrastão das mãos,
fieis arrendatários das palavras de ordem
e dos cartazes vestidos de cartão de visita.

Libertos os estudante e os reformados,
os oprimidos e os desempregados
os  trabalhadores e os silenciados,
tantos outros, ainda mais mal pagos.

Todas estas sombras luminosas desceram a avenida
e conquistaram o traço continuo e a via do bus
ultrapassando partidos e politicas que se esquecem,
de serem feitas de carne e osso.

Aqui e ali marés magníficas de humana convicção:
uma menina de reguila idade ostentava palavras
contra a crueldade dos horários desregulados,
que levam pais apartados a não verem crescer os filhos.

Ao lado, as forças de ordem reclamavam melhores condições,
enquanto outros polícias guardavam estas explosões,
seguidos de perto por uma octogenária de bengala e cravo na mão,
com pressa desafiava o fogo e a guelra desta ainda jovem revolução.










a voz do povo cobriu abriu a avenida Abril de pétalas vivas 
do tempo virá o tempo em que do alcatrão nasceram flores 
e das palavras de ordem ecos de conquista.



segunda-feira, 2 de abril de 2018

4 Estações sobre Monsanto - Anax imperator


Estávamos nos finais de Março quando numa das minhas incursões pelo Parque Florestal de Monsanto encontrei esta fantástica libélula perto de uma linha de água. Foi a primeira que vi este ano. A Anax imperator é comum no nosso país e a sua distribuição estende-se desde o sul da Europa até à Suécia e Médio Oriente.  É a maior libélula que ocorre em Portugal e pode atingir os 78 milímetros de comprimento e 106  milímetros de envergadura. A Anax imperator também conhecida por imperador-azul.  A presença de libélulas serve de bioindicador sobre a qualidade da água, uma vez que são extremamente sensíveis à poluição do meio. 



Não era preciso tanto

Não era preciso tanto sofrimento, tamanha dor ou insondável medo, para acreditar em Deus, e nos seus caminhos indecifráveis. veredas inscrit...