terça-feira, 31 de janeiro de 2017

O ataque do falcão-peregrino



Já tínhamos fotografado a petinha-de-garganta-ruiva quando entrávamos no carro e fomos surpreendidos por um ataque aéreo perpetrado por um falcão-peregrino às gaivotas que descansadamente alimentavam-se na praia. O voo foi rasante mas a fuga das aves operou-se com sucesso, porém o falcão não se deu por vencido e mudou de rumo e de alvo, investindo contra um pobre corvo-marinho que cruzara os céus naquele momento. Ainda procurámos pelas aves nas dunas mas não encontrámos vestígios do vencedor ou restos do vencido. Não sei se o corvo-marinho escapou com vida depois de várias investidas violentas num céu que até então parecia calmo. Leis da natureza e dos ares.












domingo, 22 de janeiro de 2017

Em busca da petinha-de-garganta-ruiva (Anthus cervinus)






Neste mês de Janeiro avesso à chuva e com temperaturas baixas fomos até à Foz do Sizandro na esperança de encontrar a petinha-de-garganta-ruiva, e quem sabe, com um pouco de sorte, não dávamos de caras com alguma outra raridade. No local andavam muitas petinhas confiantes e seguras das nossas dúvidas ornitológicas, voando de poça em poça, dificultando a tarefa de acertar com espécie pretendida. Não foi fácil dar com a menina que nos levara até ali, contudo o canto foi o elemento diferenciador que nos ajudou a identificar e depois seguir a ave nas suas incursões por entre lama e poças de água. Durante duas horas observamos o bicho várias vezes e seguimos as suas intermitências comportamentais. Quem nos visse do ar, depois de tanto caminhar, por certo teríamos desenhando com os nossos passos um traçado labiríntico naquela zona. Antes de irmos almoçar conseguimos alguns registos para a posterioridade desta petinha-de-garganta-ruiva (Anthus cervinus) na Foz do Sizandro. Seguiu-se o almoço no restaurante Ponto Final onde degustei uma adorável dourada escalada regada com vinho branco - recomendável. A tarde fomos à procura de gansos de faces brancas mas o que encontrámos digno de registo foi o ataque aéreo de um falcão-peregrino a um corvo-marinho que foi completamente apanhado de surpresa, como podem ler no próximo artigo.




Por vezes colaborante esta petinha permitiu alguma aproximação.


Tão depressa parava como desatava a correr, perseguida por um qualquer inimigo imaginário.



Curiosa contemplava as movimentações das outras petinhas.


Contudo nunca se misturou com as outras aves.


"Ora poisava ali e depois voava para acolá", tantas foram as esperas e as incursões por aqueles terrenos, que fizemos vários quilómetros atrás desta ave irrequieta.






Agradecimentos: José Frade



segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Almararaz, não obrigado!




Nuclear no thanks!!!


Perante o eminente naufrágio nuclear no leito Tejo
a vala está a ser escavada do outro lado da não-fronteira,
o corpo liquido é só um e não há limites para o arrastão,
enquanto os nossos vizinhos assobiam para o lado
cheios de salamaleques e boas intenções,
assistimos ao prolongamento de um tempo
em que a validade à muito expirou.

A central nuclear está fora de prazo,
e o armazém de fantasmas não é bem-vindo
nós não queremos entrar
nessa casa de horrores,
onde se varre para debaixo do tapete
a merda radioactiva paga por euros tóxicos.

Como se o rei fosse nosso
e os detritos nucleares também,
os nossos vizinhos colocam o lixo à nossa porta
e esperam que a terra não estremeça,
e a água não enlouqueça,
no decrépito mausoléu nuclear
em que um dia nos podemos tornar.

Isto não vai correr bem...
enquanto o caldo não entorna,
vamo-nos queixar à comunidade europeia
como se fosse a saia da nossa mãe!
Enfim... já temos idade para ter juízo!!!
e aprender com os estilhaços da história...








Em busca das alvéolas





No segundo dia do ano partimos em direcção à Ponta da Erva para tentarmos a nossa sorte em torno das alvéolas. Logo duas, uma alvéola-citrina (Motacilla citreola) e uma alvéola-amarela-oriental (Motacilla tschutschensis). Quando entrámos no perímetro da lezíria levantaram-se do chão bandos de íbis, no mais perfeito sincronismo, perfazendo uma gigantesca nuvem negra com vontade própria. Percorridos os primeiros quilómetros observámos num talhão onde o de arroz já tinha sido colhido, um maçarico-bastardo (Tringa glareola). Um bom augúrio para o que poderia surgir. 





Duas cegonhas esperavam o desfecho daquela erupção de penas negras levado a cabo pelas íbis. Avançamos de olhos postos na berma da estrada e no adejar perpétuo das aves. Quando chegámos ao local onde tinha sido observado a alvéola-amarela-oriental, seguimos um tractor que lavrava a terra acompanhado por centenas de aves, e entre elas, uma alvéola que nos chamou atenção. Depois de fazer centenas de fotografias resfriámos os ânimos pois tratava-se de uma alvéola-branca juvenil. Fomos bem enganados pela ansiedade de encontrar a dita alvéola-amarela-oriental. A busca continuou pela terra recém-lavrada, tentando descortinar no meio de dezenas alvéolas aquela que nos faria sorrir, contudo ainda não foi desta.


Aqui está a alvéola que nos fez acreditar, por estantes, que era uma raridade. Bem vistas as coisas, ainda bem que foi engano, a luz e o sítio onde a ave andava não a favorecia nem um pouco. 


A máquina que fazia levantar asas do chão

A tentativa da garça-boeira a transformar o sapo em príncipe.
O branco que surgia da terra lavrada.


Prosseguimos a busca, seguindo para outro local onde já tinha sido observada a alvéola-citrina. Depois de se agigantarem as sombras da espera, fomos recompensados com o aparecimento da ave, fazendo justiça a todo o seu esplendor de amarelo, em malabarismos esvoaçantes entre a terra remexida e as pequenas ilhas emergentes. Só faltava luz. O sol bem podia ter espreitado para iluminar a cenário, todavia não nos podemos queixar da dádiva de sorte que poisou por debaixo destas nuvens escuras. E assim se escreve esta demanda que quando coroada de êxito até parece fácil. 


As manobras de caça da alvéola-citrina.

O equilíbrio entre duas patas e um bico.

Atenta e nunca fiando para o que poderia  a qualquer momento surgir.

Um raro momento em que parou quieta, segundos...



O video possível.


Agradecimentos:

Eu não ia lá se não fosse o excelente trabalho realizado pelos observadores de aves. Importar assim realçar que a alvéola-amarela-oriental (Motacilla tschutschensis) foi descoberta por M. Robb & P. Fernandes e a alvéola-citrina (Motacilla citreola) por Carlos Pacheco & Pedro Nicolau na Ponta da Erva em finais de 2017 inícios de 2017, respectivamente. Tal como agradecer ao meu amigo José Frade que me convidou em embarcar nesta viagem.






M22

  Uma lágrima faz estremecer o vinco do lençol imaculado como uma flor ainda sem nome, há dias em que as palavras são audíveis rasgos ...