sábado, 29 de março de 2014

Airo (Uria aalge)



O Airo é uma ave marinha invernante e um excelente pescador.


Quando o observámos no porto de Sesimbra, perto dos barcos de pesca, parecia que estava ensonado.


Ele balouçava-se ao sabor da corrente, tão calmamente, enquanto usufruía dos raros raios de sol deste chuvoso mês de Março. 


Mas foi  durante pouco tempo, não fosse ele um mergulhador eficaz na pesca que efectua com o seu bico afiado.


Tão depressa o avistámos, como que por magia subaquática, desapareceu e surgiu do outro lado do porto, mais de 300 metros e alguns minutos depois.


E deste lado do molhe, o reflexo da água desenhava cores e sombras aquáticas, que o sol reconheceu como sendo as suas sereias.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Dia do Pai



Das tuas mãos de Pai vejo o meu principio de filho,
dos teus olhos azuis de calma alegre vejo a planície do teu Alentejo,
recordo o teu engenho com as madeiras e com as artes dos pássaros,
e outras conversas boémias para além das horas e das reprimendas da Mãe;
de como era pequena a nossa casa, onde cabia quase tudo que cabe dentro de um coração,
os móveis que fazias e desfazias sempre de fita métrica na mão,
o meu primeiro trabalho e o teu cuidado por ser o teu orgulho,
o meu primeiro amor e a tua opinião sobre aquela dor que fica para sempre,
o teu ensinamento de como estacionar um carro perto do passeio - feliz
ou a noite infindável da espera e o silêncio de outras erupções.

E agora que as forças já te vão faltando ainda fazes sorrir a lua;
caminhas para frente, faça chuva ou faça sol, levando a nossa rua às costas,
e quando te vejo sair de casa,
sinto a minha teimosia e desespero por às vezes não compreender...
a distancia que perfaz a nossa proximidade,
numa órbita de carinho em torno de Pai e filho,
coisas de homens, que os homens não entendem nem nunca entenderam,
mas quando sinto a chave entrar na fechadura e abrir a porta de casa:
és tu que acendes a luz do corredor
e sou eu outra vez criança sem relógio.

sábado, 8 de março de 2014

Vox femina





Às mulheres dedico esta luz de sábado num céu amplo sem nome,
em horas quentes de ânsia morna e naipe de sorte rainha,
de onde vos escrevo o tempo corre e com ele a curva da memória,
os livros abandonados pelo chão deixam cair restos de palavras feitas saudade,
vossas,
do vosso humor imprevisível, do amor libertador, da fuga amante de um hotel em chamas,
dos incêndios na ponta dos dedos,
da queda de mãos dadas na paixão,
na descoberta que os abismos são para descer e subir a pulso,
dos chás e dos jantares lunares vestidos nos lábios por beijos e versos ainda por abrir.

A vós dedico as ruas que não começam nem acabam,
as planícies de infinito madrugador,
os risos que se abrem em círculos perfumados de primavera anunciada,
as praias desertas e a meia lua do seio ou da ruga brinco de oiro,
pequeno instante em que o coração foi um poema por acabar.

Nestas horas de sábado reparo que as flores estão diferentes,
adquiriram uma nova cor... uma outra voz,
quando uma mulher olhou para elas e sorriu, na indecifrável essência feminina,
e talvez por isso, o sol, o beijo, a lágrima e o adeus.
valeram sempre a pena.


segunda-feira, 3 de março de 2014

Canibalismo sexual do Louva-a-deus



No reino dos insectos estamos perante um predador furtivo e com algumas particularidades bastantes curiosas. O louva-a-deus (Mantis religiosa) voa durante a noite, geralmente em busca de parceira, possue apenas um ouvido que serve também para detectar ultra-sons dos seus principais predadores, os morcegos. Uma vez detectado o morcego, o louva-a-deus voa e perde subitamente altitude, numa manobra para escapar ao seu temível predador, no entanto, por vezes, não escapa à paixão da carne.
A percentagem de 33% de machos que perdem a cabeça é sintomática que algo vai mal na vida amorosa dos louva-a-deus. Assim o diz o amor carnal e visceral, quando a fêmea louva-a-deus come literalmente o macho. O canibalismo sexual pode ocorrer antes e depois da cópula. Desconhece-se cientificamente os motivos deste comportamento. Existem várias hipóteses; o facto de as fêmeas serem maiores, quando esfomeadas possam confundir o macho com uma presa, ou a falta de interesse pelo enamoramento masculino possa contribuir para tão terrível desfecho. No entanto, há estudos que adiantam que em 33% dos casos, a fêmea arranca a cabeça ao macho durante o acasalamento, sendo que o abdómen deste continua com capacidade de introduzir esperma durante algum tempo.  
Quantas vezes o "amor" não nos faz perder a cabeça?




















M22

  Uma lágrima faz estremecer o vinco do lençol imaculado como uma flor ainda sem nome, há dias em que as palavras são audíveis rasgos ...