domingo, 24 de dezembro de 2023

Natal "foi" amanhã

 







Depois veio o milagre

começaste a andar,

articular sonhos,

conquistar memórias.


saiste do lar a sorrir,

amordaçaste o acidente

vascular medonho,

a nossa casa cresceu contigo.


como quem bebe devagar esta luz

dizem que hoje é natal,

a julgar pelo brilho do menino Jesus,

será este o mistério que nos eleva?

.




terça-feira, 12 de dezembro de 2023

O roubo da porta



Uns dizem que o furto ocorreu durante a madrugada,

outros afirmam que foram seres sombra silenciosos,

talvez meliantes apoiados por gatos comunitários

mas não há dúvidas - foi um plano de mestre centopeia.  


Pela subtração perfeita envelhecemos de culpa 

habitamos nesta propriedade horizontal a cair de pobre,

não dispomos de porteiro robótico nem de apelativas chaminés

por onde o pai natal possa deslizar.


No bairro, 3 portas de alumínio e vidro foram abduzidas,

quando os vizinhos chegaram com a chave na mão,

tentaram encontrar a fechadura mas não havia  matéria,

o vazio entrou-lhes pelos olhos e cegou-lhe a boca.


A seguradora agarra-se à hipótese

previsível e perfeitamente defensável,

actividade extraterrestre incomportável.



terça-feira, 21 de novembro de 2023

A luz a que chamamos casa




No esboço do eucalipto escrevi o teu nome,
o chamamento desceu pelo papel de parede
que agora forra o espaço desta solidão,
lar onde recuperas os dígitos da memória.

no lar o cheiro da idade, as auxiliares correm atarefadas,
com medo que o cão invisível da doença
faça tropeçar ou morda os tornozelos
à senhora desorientada que chama puta ao homem da tv.

estas paredes abraçam-nos de humildade,
o carinho corre de mão e mão, a luz é filtrada, de resto...
tudo é bom; a comida, cama, até a companhia,
que nos faz parecer os dias mais pequenos do que são.

hoje fui buscar-te ao lar num carro de fogo velho,
de engasgos vários, com um pneu vazio, vidro partido,
porta bagagens que não fecha e humores nos travões,
isso não importa nada, é já ali, aquele nosso ínfimo firmanento.

domingo, 12 de novembro de 2023

Sr.Costa veio ao meu aniversário





No dia do meu aniversário

o primeiro ministro decidiu demitir-se,

um presente inusitado, servido frio,

eu, com cara de peixe no prato, boquiaberto.

 

o primeiro ministro abafou mundo,

olvidaram-se guerras e crises migratórias,

casas sombra, saúde sem norte,

fez-se da incompetentes glória.

 

Portugal a tentar ser um país de gente boa! 

com ministros juvenis e outros aldabrões em barda

cambada de patos bravos com sal na asa!

a encher o papo com bravas negociatas.

 

passei o meu aniversário neste rectângulo desorientado,

onde o primeiro ministro admitiu ser incapaz,

eu, mais parvo, a olhar para o buraco do porta-moedas,

a riscar dias e o juízo que me falta para vos aturar.



quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Um lar que nunca é o nosso

 




Sempre julguei ser capaz de defender-te

de palavras como lar, casa de repouso,

residence sénior, nome pomposo,

por outro sítio, além do nosso cantinho.


por mais que tente ser ferro também me vergo

a uma solidão pintada nos olhos das paredes, 

uma fralda suja à espera da dignidade nocturna,

ou uma colher que tem que ser guiada até à boca.


a tua força guerreira é um novo planeta

que orbita o meu olhar das seis da tarde,

a memória salta como a agulha de um disco vinil,

repete em lenta rotação: a nossa casinha!


pedes-me para te levar nas falhas dos meus dedos,

ah que noite sem beijo, estamos tão perto da modéstia, 

que o nosso pequeno ninho…

só existe quando nele caímos. 




sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Do quarto 602

 



Peço uma senha de visita,

um risco vermelho pinta o bilhete,

tenho autorização para entrar,

o elevador sobe até ao 6º piso,

 

no ascensor engulo todas as lágrimas

aqui não há espelhos apenas olhares caídos,

respiro fundo e regurgito um sorriso novo,

Mãe estás à janela, virada para o infinito.

 

choras quando me vês entrar,

começo com palhaçadas para te animar,

falo rápido, descasco o fruto das saudades,

abraço-te como se fosse a nossa casa a chamar,   

 

Do quarto 602 os médicos dizem cousas loucas,

não quero ouvir, nem as quero mastigar!

amanhã, estou contigo, nova viagem!

o elevador desce vazio.


domingo, 1 de outubro de 2023

Máquina de lavar a alma

 




Os meus e os teus olhos parados,

dentro deles encontramos histórias,

postais de instantes cúmplices,

rotinas e desafios da nossa unidade.

 

A tua tez macia pede os meus dedos,

conto-te como a vida se derrete lá fora,

mordo todas as lágrimas que te querem ver,

e levo-te à boca mais uma colher com sopa,

 

Tu dizes: vai à tua vida! Eu desafio-te: até amanhã!

repito: amanhã depois do trabalho, venho cá!

porque não sei por a máquina de lavar a alma a trabalhar.

e penso: também não sei ser filho sem ti.


porque a máquina de lavar a alma

não tem garantia, manual de instruções, 

nem reparação, não penses comprar outra!

os seus ciclos alimentam-se de nós.





quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Praia num sonho




Foi um folgo de fé caminhar na praia,
os dois, tu agarrada ao meu braço,
vencendo as pequenas ondas,
na rebeldia da contra corrente.

Ah Mulher Guerreira!
sem cansaço, esboçando sorrisos,
travando batalhas, tantas doenças,
e nisto, o oceano refletiu-se nos olhos de Mãe.

Eu era o filho mais feliz do mundo!
por estar ali ao teu lado,
a chapinhar nas efemeridades da areia,
em pés de água, segundos intemporais.

Por mais cordas que o mar desate,
por mais nós que tenhamos que desfazer,
para sempre ficará a melodia dos nossos salpicos. 
muito para além da última vaga.





quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Desapego

 




nada possuo!

desde o sangue que faz pulsar a cabeça da casa,

até os ossos deste esqueleto que se ergue dançarino, 

tudo me será retirado no dia em que me for,

e esta lura de brinquedos será habitada por outros iludidos.


a ferrugem do meu plasma fará parte do próximo veículo voador,

as moléculas do meu fato novo e as fábulas numéricas da moeda,

farão do ouro a miséria que os exércitos perseguem diariamente,

somos todos protagonistas castrados de um pódio efémero.


verdadeiramente nada me interessa e nada me pertence!

tudo será engolido e regurgitado para um outro que virá.

para ser franco, apenas habito uma fração de tempo e átomo,

com que galanteio esta farsa até à hora do meu enterro.



domingo, 3 de setembro de 2023

Carriça desde a minha janela


A água é sinal de vida. É o que se observa nesta pequena poça, resultante de um furo no sistema de rega do jardim publico. Sinceramente, espero que não o consertem. A perca de água não é muita e serve para matar a sede a muitas aves e proporcionar uma maior riqueza de biodiversidade. Estava eu à janela do meu quarto, quanto observei um bichinho tão pequeno e aos saltos. Depressa  peguei na máquina fotográfica, de tão curioso que estava, porém, não tive tempo para muito mais.

Não é  uma boa fotografia! Está muito longe disso. Trata-se apenas de um registo de uma carriça Troglodytes troglodytes. Ave que observei, pela primeira vez, desde a minha janela e de chinelos. É uma das aves mais pequenas que ocorrem em Portugal, e também aquela que apresenta um dos cantos mais belos e melodiosos. Vi e vivi este momento, de apenas 2 segundos, com este "ratinho com asas", a esconder-se nos arbustos para tratar da sua vida. A "bela fotografia" que se lixe. Não é isso que aqui interessa!  






quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Inércia



as sanguessugas do tédio

anicham-se no coro cabeludo,

num lento escalpe ao pensamento,

quieto, rendo-me ao lume deste cerco. 

 

o dia começa sempre tarde, 

enrolado, serpente, 

de pernas nos braços, 

e anticoagulantes nas artérias.

 

olho para fora de mim,

lá fora arde a caravana da guerra,

porém, sobrevivem nuvens e praias,  

rápido... que venha a queda do outono!


sexta-feira, 4 de agosto de 2023

A cadeira do Papa

 

 o sumo pontífice tem a idade do meu pai,

o meu pai, não estando nesta dimensão,

 admiraria  o tema  das jornadas mundiais da juventude:

 "Maria levantou-se e partiu apressadamente"


o meu pai também tinha dificuldades de locomoção,

lembro-me de o deixar de cadeira de rodas para internamento 

e resgatá-lo, 15 dias depois, mais magro, porém de sorriso pronto,

obrigando a cadeira a voar para fora do hospital e lá foi ele pelo seu pé!


tal como o Papa Francisco é um carpinteiro de pontes,

o meu Pai Viriato foi fazedor de sonhos de madeira,

dois bons seres humanos nesta viagem de diferentes veredas, 

qual a diferença ente um Homem santo e um não santo Homem?


nesta e noutras noites, os sinos da igreja ecoam às 21:00

enquanto o vento dança, humanizando árvores, neste e noutros dias.



terça-feira, 1 de agosto de 2023

dia dorme

 

dormes no dia cansado de doença

a luz que flutua nas folhas da cama   

é o reflexo do embalo de Deus

espelho daquele teu olhar.


segunda-feira, 31 de julho de 2023

Rolieiro-de-peito-lilás

Em diferentes momentos do dia, as cores e África refletidas no rolieiro-de-peito-lilás Coracias caudatus, sereno guardião das estradas do Quénia.











Em Samburu no Quénia, o rolieiro-de-peito-lilás (coracias caudatus) reclamava a posse deste tronco e não saia de lá por nada. Mesmo que a escassos metros, passassem de carro uns tipos estranhos, de fala improvável, de hábitos invulgares e máquinas bizarras que o contemplavam como se tivessem encontrado aquela, a dita lança em África.




domingo, 23 de julho de 2023

O pão do tecelão

O tecelão-de-sobrancelhas-brancas | white-browed sparrow-weaver (Plocepasser mahali), veio debicar o pão que estava no cesto a um canto da cozinha. Sem vergonha e com muita confiança, esta foi uma das aves que observei com maior frequência durante a minha viagem ao Quénia.




quinta-feira, 13 de julho de 2023

Sem praia ou sabor

 

A mulher de lua esfinge estende-se no areal

do seu ancoradouro faz-se abrigo, enseada

nas suas coxas morenas, desertas, os limos

salgam-me a vontade de vazar maré.

 

entreabre-se o rubro bivalve salgado,

deixando antever o brinco pérola rosado,

à espera do toque primordial dos dedos,

míngua pelo aconchego na boca de calor.

 

ah que maleita desgraçada esta!

quebranto febril nesta praia de azar,

cabeça falo que me resta, por ti,

perdi olfato e paladar.


agora sustenho este murcho encanto

de ver passar navios, de farol a quebra-mar.

 

quinta-feira, 6 de julho de 2023

Abençoada febre

 

Não consigo estar quieto!

num frenético desconforto

enrolo-me, cuspo-me para o chão,

idealizo terramotos numa noite eterna.

 

a abençoada febre despe-me dos suores

não gastos em prazeres fêmea.

sou uma mortalha usada e molhada,

nem para charro de rodada me ajeito.

 

com olhar de peixe o médico disse:

“incha, desincha, depois passa!”

pego no receituário prescrito e no verso leio:

“como era se ficasse tudo às escuras para sempre?”



sábado, 1 de julho de 2023

07:04 - 17:04


à boca do túnel urbano

desisto da paisagem subterrânea,

os olhos perdem-se na leitura,

a fome do livro puxa-me a cabeça.

 

lagrimas afiadas molham a página,

os carris embalam a carruagem prenhe:

5 minutos - abre-se a porta ao formigueiro humano

2 minutos - tudo se esvazia na rotina do ganha pão.

 

subo as escadarias em ombros fantasmas,

enquanto sapatos elétricos esquecem-se dos seus corpos,

degraus e mais degraus para ter que voltar,

com nódoas negras deste bulir cerebral.

 

em loop sincronizado, 

viajo na carapaça deste bicho-de-conta mecânico,

vejo-me a subir as escadas elétricas, anestesiado, talvez feliz,

ao mesmo tempo que um outro eu desce, desce, até desaparecer...

 

na ladainha, suave engano.

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Um estorninho que veio comer à mão


Quando o estorninho superb starling decidiu juntar-se para tomar o pequeno almoço. Nada tímido, não se fez rogado e veio comer um pouco do pão à minha mão. Nairóbi - Quénia 



terça-feira, 13 de junho de 2023

Pazada

 

oiço a pá a rasgar o saibro;

som cheio, arenoso,

sincopado e nervoso

ritmo quase fúnebre.


ao lado, o canto harmonioso

da trepadeira ao subir a árvore,

ave de cabeça para baixo e bico agulha,

minuciosa cata insecto e costura

 

o bichinho penado assiste ao trabalhador,

obra ao sol sem feriado ou clemência,

a ferir a terra que o pariu.

terça-feira, 6 de junho de 2023

O incansável cansaço



São corredores infindáveis

para chegar às batas brancas,

que nos aninham em nuvens de fé,

num telegráfico e ambicioso receituário.


- o médico disse que as análises estavam boas...

 

o passo faz-se curto pelo chão gasto dos hospitais,

Tu minha Mãe cada vez mais cansada do depois,

sempre que sobes os degraus do nosso canto

e repousas no sofá à espera do fôlego sem hora,

 

- a nossa rua é a mais bela mas a nossa árvore tem pouca folha.

 

Tu minha Mãe - mulher única e triunfal!

quando o meu mundo é a ciência do teu sorriso,

ficarás sempre nestes dias por preencher.


 

segunda-feira, 10 de abril de 2023

O murmúrio da baleia-corcunda e os peixes coloridos.

 



Depois de saírmos da Isla de la Plata, o barco parou para observarmos tartarugas e os peixes coloridos que se aproximavam da embarcação na expectativa de comida. Quando a máquina entrou dentro de água e começou a filmar os peixes de volta dos pedaços de pão, captou o som da baleia-corcunda, num ecoar distante  deste magnífico cetáceo, nas profundezas do oceano Pacífico. Foi assim no Equador.








domingo, 9 de abril de 2023

Aranha saltadora Evarcha jucunda

Para mim, é sempre proveitoso apanhar vento na cara depois de nos anestesiarem a boca. Na vinda do dentista decidi visitar uma ribeira em Carcavelos para espairecer e observar a chegada da primavera por estas paragens. Aproveitei para caminhar e para pensar em tudo menos em dores, seringas e doenças. Observei a ressurgimento das flores e as cores que embelezam os poucos locais que não foram ceifados como medida preventiva dos incêndios. Aqui em Carcavelos não há muito para arder mas há muita construção que dizima as poucas zonas de vegetação silvestre. Reparei nas flores primaveris e entre elas a erva-da-inveja ou as pervincas (Vinca difformis) que se distribuíam abundamente junto à sombra da ribeira. 

Agachei-me para tirar uma fotografia e algo saltou. De mais perto constatei que era uma pequena aranha saltadora. Tentei um registo com com o telemóvel mas o bicho voltou a pular e desapareceu no meio das ervas. Quando mexi o pé reparei noutra aranha saltadora mais escura que sem medo fitou-me com os seus oito olhos. Arrisquei mais uma foto que ficou uma desgraça. Levantei-me e deixei no local um pauzinho a marcar o sítio da observação. No outro dia de manhã, antes de ir trabalhar, dirigi-me ao local; já sem anestesia e com força e vontade renovadas. Com a minha máquina fotográfica e uma lente de macro estava preparado para arriscar a sorte. E lá estava o macho não muito longe do local inicial onde o tinha encontrado. O bicho estava calmo e só ergueu uma pata quando afastei suavemente uma ervinha que estava à frente do foco. Afastei-me e montei o tripé junto ao chão para depois fotografar a aranha-saltadora (Evarcha jucunda), esquecendo-me das dores que renovavam estes dias de abril. A aranha saltou para detrás das ervas-da-inveja, onde estava outra aranha escondida. O meu tempo tinha passado, entendi o sinal  e arranquei dali para fora, esquecendo por momentos, as dores monetárias e físicas de cada ida ao dentista.












 

sexta-feira, 7 de abril de 2023

A sala


na tua sala repousa 

uma asa caída de todos nós,

já a janela virada a norte, 

espera que te voltes a debruçar

em busca das escamas de sol.

 

a corrente de ar matinal 

anima as fotografias insolúveis 

ao pó do tempo;

esta sala de luz forte em tijoleira vermelha,

foi o altar da mulher que ainda te ama,

ao lavar-te os pés, fizesse fé ou falta.

 

por esta dimensão...

escasseiam manhãs simples,

em que as sopas de café 

abriam o apetite

da porta da rua...

 

roda viva.





quarta-feira, 22 de março de 2023

Domingo magro

 




um homem cai num jardim cheio de domingo,

ninguém repara, a felicidade estoura balões,

as crianças riem, os pais seguram o sol, 

cicatrizando medos na pele familiar.

 

o homem levanta-se com a dignidade solitária

de quem não se importa com as calças mictadas

ou com a fome que lhe seca a casca do corpo,

sorri, procura a sombra entre pinheiros. 

 

o domingo está prestes a findar, 

as crianças desaparecem com os progenitores 

engolidos nas filas de carros que falam sozinhos,

familias recolhem exaustas às colmeias.

 

o homem de calças com manchas de urina

e camisa com nódoas de sangue ou vinho,

não deixa o domingo eclipsar-se nem o jardim fechar,

sem antes esquecer-se de um qualquer poema;

 

numa noite a fazer-se de abrigo.


domingo, 19 de março de 2023

Carpintaria da memória





Na carpintaria viajante da memória

sinto o perfume da serradura recente,

repito os nomes das ferramentas afiadas

tento a curva de uma letra com lascas de pinho. 


Hoje, com óleo de linhaça, dei brilho aos móveis,

tuas árvores, meu Pai, das quais deste nome e forma,

não tendo o teu engenho para edificar obra,

observo a plaina a manusear silêncios,

nas nuvens suspensas com cola de madeira.




 

terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Aves da Quinta da Alagoa - Felosa-bilistada (Phylloscopus inornatus)

 

Durante as minhas caminhadas tenho por hábito visitar a Quinta da Alagoa, em Carcavelos. É um local bastante aprazível mas a evitar (pelo menos para mim) durante o fim-de-semana devido. É muita gente que se junta neste espaço para festas de aniversário ou passeios domingueiros. Nada contra, porém o meu mau feitio arraçado de resmungão anti-social não deseja levar com um petardo de uma bola de futebol nas partes baixas, como já aconteceu. Por isso evito a Quinta da Alagoa ao fim-de-sema. Contudo, reconheço a sua importância para o convívio familiar. Já para quem queira passar um tempo a ler em frente à lagoa ou outra aclividade que requeira alguma paz e silêncio, recomento este espaço só durante os dias de semanas. Bem, foi isto que aconteceu hoje! 

A visita que fiz à Quinta da Alagora teve como principal intuito registar a felosa-bilistada (Phylloscopus inornatus)) que por lá tinha sido observada. Fui alertado pelo amigo Frade e juntamente com o amigo Luís lá fomos. Quando chegámos, colocámos o chamamento numa árvore perto da lagoa, e registámos alguma actividade, provavelmente uma felosa-comum, mas sem certezas. Não desistimos e tivemos sorte; uma vez que veio ter connosco quem tinha inicialmente encontrado esta espécie na Quinta da Alagoa. Pois bem, com a sua ajuda, encontrámos o bicho que de mu.to irrequieto ainda deu para um fugaz registo mesmo em fraca luz. Foi o que se arranjou. Pelo menos sem canções de "parabéns a você" ou boladas que me deitassem ao chão. Adoro este jardim quando o relógio anda  em contraciclo social.

9-11-2022





segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Líquenes de Monsanto - Cladonia humilis

Os líquenes resultam de associações simbióticas estabelecidas entre algas e fungos. Desta relação todos saem a ganhar; os fungos ficam com o açúcar produzido pelas algas, as algas, por sua vez, recebem a protecção dos fungos. Neste caso temos um líquen foliáceo em plena frutificação.

















quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

O salto da baleia-de-bossa

Podia começar e acabar assim. Vezes sem conta; o mesmo movimento, numa repetição contínua, num ciclo de intervalos perfeitos, entre a massa de água e o animal que se agiganta num salto gracioso. Uma explosão líquida. Os olhos molhados pela bofetada de sal, o rosto encharcado pelo ecoar da adrenalina em gritos que espicaçavam as ondas, um barco prestes a desfazer-se em felicidade. Humildemente, senti que não sabia nada, não controlava nada, era apenas mais um salpico de espanto, sacudido pela enorme barbatana que nos dizia adeus. No meio do oceano Pacífico, esta baleia-de-bossa, gravou na minha memória este instante que dificilmente irei esquecer. Humildemente grato e consciente da finitude da minha praia.




terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Radioterapia

 


no campo iónico surge uma partícula

radioactiva, que trespassa os olhos da pele,

na expiação do mal que te afaga,

insuspeita na fé que nos alimenta.






segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Livro boomerang

 


os livros que empresto quase nunca voltam, 

se regressam, são outra coisa qualquer,

entre a fruto ácido e a lâmina por afiar,

outros, ficam-se pelo alvéolo do novo dono.


gostava de me emprestar a outras mãos,

a outros olhos, e se regressa-se, seria outro átomo,

diferente deste poema boomerang que atiro para longe,

na esperança de não voltar ao mesmo.



domingo, 1 de janeiro de 2023

No caminho

 



o acaso de todas as variáveis começou,

a onda mãe arranha a rocha,

e logo a estrela-do-mar norteia o ciclo

em contratempo à curvatura lunar,

somam-se instantes, vagas incomuns.


não sei o que é o tempo, 

pode ser  o intervalo de cozer um ovo 

dentro do chá de tília, 

e se nada for?


assim nasce um jogo inventado 

para nos desnortear

o caminho.



M22

  Uma lágrima faz estremecer o vinco do lençol imaculado como uma flor ainda sem nome, há dias em que as palavras são audíveis rasgos ...