terça-feira, 21 de novembro de 2023

A luz a que chamamos casa




No esboço do eucalipto escrevi o teu nome,
o chamamento desceu pelo papel de parede
que agora forra o espaço desta solidão,
lar onde recuperas os dígitos da memória.

no lar o cheiro da idade, as auxiliares correm atarefadas,
com medo que o cão invisível da doença
faça tropeçar ou morda os tornozelos
à senhora desorientada que chama puta ao homem da tv.

estas paredes abraçam-nos de humildade,
o carinho corre de mão e mão, a luz é filtrada, de resto...
tudo é bom; a comida, cama, até a companhia,
que nos faz parecer os dias mais pequenos do que são.

hoje fui buscar-te ao lar num carro de fogo velho,
de engasgos vários, com um pneu vazio, vidro partido,
porta bagagens que não fecha e humores nos travões,
isso não importa nada, é já ali, aquele nosso ínfimo firmanento.

domingo, 12 de novembro de 2023

Sr.Costa veio ao meu aniversário





No dia do meu aniversário

o primeiro ministro decidiu demitir-se,

um presente inusitado, servido frio,

eu, com cara de peixe no prato, boquiaberto.

 

o primeiro ministro abafou mundo,

olvidaram-se guerras e crises migratórias,

casas sombra, saúde sem norte,

fez-se da incompetentes glória.

 

Portugal a tentar ser um país de gente boa! 

com ministros juvenis e outros aldabrões em barda

cambada de patos bravos com sal na asa!

a encher o papo com bravas negociatas.

 

passei o meu aniversário neste rectângulo desorientado,

onde o primeiro ministro admitiu ser incapaz,

eu, mais parvo, a olhar para o buraco do porta-moedas,

a riscar dias e o juízo que me falta para vos aturar.



M22

  Uma lágrima faz estremecer o vinco do lençol imaculado como uma flor ainda sem nome, há dias em que as palavras são audíveis rasgos ...