O que era terreno baldio onde as perdizes
anunciavam, com voos curtos, o nascer do dia
deu lugar a um centro comercial,
a uma rotunda, a uma bomba de gasolina,
lojas a perder de vista e um parque de estacionamento
para carros elétricos e não só, todo e qualquer veiculo aéreo ou terrestre,
tal não era a fome celerada por construção desmedida e lucro.
Bem perto da recém inaugurada manjedoura comercial,
junto à pista vermelha para ciclistas,
e outros andarilhos solitários,
um pequeno coelho assustado
não sabia para onde se fugir,
após ter perdido a sua lura, em desespero,
correu para junto de uma trincheira de ervas,
e de costas voltadas para a novo empreendimento suspirou:
"na última primavera nada disto existia".
" E assim foi a traição da última primavera" pensei eu,
perdido no meio desta voracidade cinzenta,
com que se destroem anos de selvagem doçura.