quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

BioMelides: Libelinha de Graells (Ischnura graellsii)



O amor em Melides.


É em forma de coração que a Libelinha de Graells (Ischnura graellsii) perpetua a sua existência genética. O acasalamento das libelinhas pode durar alguns segundos ou então várias horas, consoante a espécie.






A cópula pode ocorrer durante o voo, na vegetação, ou no local onde se irá concretizar a postura. Em alguns casos o macho zela pela sua descendência escoltando a fêmea e protegendo-a para que esta possa ovipositar em segurança.



Ischnura graellsii macho


Ischnura graellsii fêmea

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A gata do oculista



Com avançar dos quarenta chegam também alguns sintomas típicos da idade, como é o caso de ver mal ao perto. E com isso afastam-se livros da vista até que o comprimento dos braços nos permita ler na perfeição. Entre afastar as letrinhas dos olhos e colocar os óculos na ponta do nariz, vai a distância do estilo e da circunstância. Para fazer face a esta inevitabilidade, receitaram-me lentes progressivas e como os meus óculos estão a pedir reforma, dirigi-me a um oculista para ter uma ideia de como andavam as tendências. Até aqui nada de estranho. Depois de provar uma dúzia de armações e de não gostar de nenhuma delas, esgotando a paciência da senhora da loja que se derretia em apologias sobre as fantásticas lentes de cristal e armações flexíveis, quase indestrutíveis - surgiu o imprevisto. 


Não foi só estrondoso orçamento de um par de óculos que me assustou. Tentemos então compor o cenário desse momento: Ora temos que a loja apresentava uma sóbria decoração natalícia, uma outra senhora atendia um cliente mais decidido e de sentido comprador, eu estava confortavelmente sentado enquanto falava com a oftalmologista sobre as vantagens destas ou de outras lentes, em cima da mesa estavam seis armações de óculos para escolha, várias pessoas entravam e saíam da loja, ouviam-se votos de boas festas, saudações e sorrisos alargados, lá fora a sirene de uma ambulância cortava o frio do fim de tarde, até que entrou pela loja a dentro, tão rápido quando uma surpresa consegue ser, um gato malhado de luz e espanto, melhor dizendo uma gatinha de nome Sisi (a mesma deste episódio).


A felina rondou as mesas e as cadeiras, mediu o grau de aceitação dos olhares e não tardou a subir para o meu colo, onde reclamou uma panóplia de festas e mimos até se anichar como se estivesse em casa e eu fosse só mãos e calor. Perdi-me no pêlo do gato e esqueci-me do peso do relógio. Não escolhi nenhuns óculos. Não era para isso que tinha ido ao oculista. Este não era o tempo de afastar afectos pela lonjura dos braços.








terça-feira, 1 de dezembro de 2015

BioMelides: Anax parthenope ou o tira-olhos menor

Como pano de fundo a lagoa e esta é a Anax parthenope; uma libélula também é conhecida por tira-olhos menor.




Pode atingir os 75 milímetros de comprimento, de onde sobressai o azul eléctrico e o anel amarelo do seu corpo voador.



Estávamos no fim de Agosto, quando este macho patrulhava arduamente o território nas margens da Lagoa de Melides. Tantos foram os voos de um lado para o outro, em compromisso com o tempo, de compasso bem definido, como se procurasse a hora certa para a mudança num relógio submerso nas águas. Nas asas destes sonhos há um tempo diferente que corre sem correr e quase não o vemos passar.


terça-feira, 10 de novembro de 2015

Inauguração da exposição de fotografia "A Águas e as Aves"






É já no próximo sábado 14 de Novembro, pelas 21:30, na sede da União de Freguesias de Carcavelos e da Parede em Carcavelos, que iremos inaugurar a exposição
"A Águas e as Aves" como tal, estão desde já todos convidados.
Apareçam, pois iremos contar com esvoaçantes surpresas!


segunda-feira, 2 de novembro de 2015

BioMelides: O gaiteiro negro (Calopteryx haemorrhoidalis)


Em Melides estas libelinhas embelezavam com voos dóceis as águas que sobravam das fontes e dos tanques. Estávamos no pico do verão e o calor apelava a locais frescos e de sombra fácil, talvez por isso, o gaiteiro negro (Calopteryx haemorrhoidalis) espalha-se magia por estas terras alentejanas e tudo resto cantava em harmoniosa canícula.






Quando dois gaiteiros procuram o mesmo poleiro, quem sofre é quem está por debaixo do poiso...


A fêmea de gaiteiro negro aguarda pacientemente a chegada do seu par triunfante.
E assim se conduz o burilar de pequenas jóias pelas mãos silenciosas da natureza num aprimorado requinte.



sábado, 31 de outubro de 2015

Hoje






Tu és hoje,
esta é a tua casa de fogo,
onde amarinhaste pelo papel de parede,
moveis e cortinas à espera que de um amanhã diferente,
mas amanhã não te posso garantir que haja noite.

Como sabes…
amanhã não tem volume, por isso não lhe podes tocar;
nada é mais vago que uma suposição,
sonho sem aresta ou paraíso sem vértice onde possas subir.

O teu nome é Hoje.
não tens outro remédio, senão correr pelas nuvens de linho,
aproveitar as auto-estradas que saem das tuas mãos
e redopiar pelos jardins de livros, abraçando árvores criança.

Só o calcário das palavras de Hoje te interessa.
ontem e amanhã são apenas fósforos sem cabeça.
sabes lá se amanhã terás voz, escamas, pele, lâminas;
ou se serás outro nome com que te possas entreter.



domingo, 25 de outubro de 2015

Átomo






Pensava em ti e nos verbos que criei em gaiolas,
nos dias urbanos em que desenhei a tua sombra:
nas carruagens do metropolitano,
nos carros de chuva,
nas locomotivas transparentes,
nos elevadores das torres altas,
nas curvas apertadas da marginal,
entre pontes, hotéis e dormitórios,
nas minúsculas janelas do corpo de uma cidade,
mas em nenhum destes reflexos te encontrei,
porque foste aragem que atravessou os poros
de todas portas...
até à carne limpa do silêncio das casas;
sendo às vezes mais do que um átomo d´amor.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O amigo do fotógrafo - Cartaxo-comum (Saxicola rubicola)





Como são as coisas? Quando vou fotografar para o campo, observo muitas destas aves, baptizadas carinhosamente como sendo os “amigos do fotógrafo”. 
Alcunha, que muito se deve ao facto de adoptarem uma postura destemida e curiosa, pondo-se a jeito de uma fotografia de retrato. Infelizmente, verdade seja dita, não perco muito tempo com elas. Não por não serem bonitas; muito pelo contrário, antes por serem vulgares e não só de nome, como também de ocorrência. Porém, o caso muda de figura quando se trata do nosso jardim, do nosso cantinho ao pé de casa. Os afectos e o sentido de pretensa mudam a vulgaridade das coisas, transformando-as em jóias com adornos únicos de singularidade. Um simples cartaxo-comum (Saxicola rubicola) deixa de ser comum e passa a ser “nosso” e depois momento único e recordação. Foi a primeira vez que fotografei esta ave em Carcavelos. Porque a fotografia também é isto. 

Um abraço ao meu amigo Carlos Cartaxo.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Auto da Barca de Melides







Na lagoa de Melides existe um pequeno ilhéu. Com o final do dia, o ilhéu move-se no horizonte sereno, coberto por pequenas aves brancas num esvoaçar irrequieto. Daqui a pouco, chega o barqueiro e as suas lembranças de outras almas, as aves sabem disso e as raízes do homem também.




segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Lua de Sangue







Pelo céu nocturno, a lua de sangue deixou um rasto de mistério cobrindo a avenida da 
madrugada de vermelho rubro. 

Valeu a pena estar acordado até às 05:00 para puder presenciar este evento lunar que só 
voltará ocorrer daqui a 18 anos. 

Esta foi a conjugação perfeita de fenómenos. Quando eclipse lunar coincidiu com uma 
super lua, no preciso momento em que o satélite estava mais próximo da terra.
Adquirindo assim a tonalidade vermelha, uma vez que deixou de reflectir a luz do sol e 
apenas propagou a luz  filtrada do nosso planeta.








domingo, 27 de setembro de 2015

Refúgio





Com o desmanchar do sol no espelho da lagoa de Melides, as aves reservam o ilhéu para dormitório. Enquanto os humanos, ao longe, observam o rumo da natureza inscrita numa réstia de luz. Para quem não tem asas, a distância entre margens é subtraída pelo brilho das mãos. Os olhos tentam tocar no esvoaçar do horizonte mas apenas desenham esboços de espanto breve. Oiço dizer que enquanto este quadro durar, a paz branca não reconhecerá fronteiras. Todos fugimos de alguma coisa.

Este é um outro refúgio onde abrigamos o olhar antes do anoitecer da humanidade.  

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Lagoa de Melides





do longínquo areal levantam-se cavalos de fogo em indomável galope,
a praia só é praia porque tu a baptizas todos os anos com um nome diferente;
tudo vai e vem com o estrondo das ondas no moldar rochoso das noites mansas
depois do descanso da vista tentas tocar no horizonte e vês que tudo se move
num coágulo prateado de paz lenta,
antes de ouvir chamar o teu nome colocas as nuvens no sítio e arranjas casulo para a lua,
deixas o mar arrumado, a praia estendida e vais...
são estas crinas que te devolvem o trote momentâneo da realidade.

Café Poema - Poesias de Deus e ao diabo | 12 Setembro | 21:30 | Cappucino´s Coffee Shop






Neste Café Poema vamos falar das poesias de Deus e das coisas do “diabo” por intermédio dos livros de José Régio e outros poetas. Iremos ouvir a vossa poesia e as vossas recomendações sobre o que estão a ler e que livro recomendariam para levar para uma ilha chamada amanhã.

Sejam bem-vindos então...



quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Distopia





como são maleáveis as ruas desta outra cidade,
distante e subaquática na distorção do olhar de peixe,
tantas são as avenidas de vidro que formigam de plasma incandescente,
cruzando-se com artérias de seiva animada em fluxo eléctrico,
edifícios vegetais que se movem ante a aragem das orbitas planetárias,
anéis de cristal que elevavam a torre transparente ao cume da atmosfera,
em movimentos explosivos de energia em pleno labor industrial,
tal como as pontes ultra-sónicas que se estendem em língua de camaleão
unindo feridas por cicatrizar deste órgão.

aqui o tempo é uma massa reversível, moldável mediante os nossos anseios.
podemos ir e vir àquele doce instante, vezes sem conta sem criar paradoxos.
temos transportes celulares entre a e b em 4 segundos, unidas as membranas e já está!
desejos satisfeitos entre b e c em 2 segundos, consumados entre fluidos de carbono,
aqui não há lugar para a frustração das manhãs elípticas e nebulosas.
não há barreiras, nem muros ou esperanças adiadas,
não há o meu braço mas sim o nosso corpo,
não há a minha janela: antes a nossa casa volátil.
temos dias em que somos  pulmão e coração de pele translucida,
outros escamas prateadas e guelras perfeitas
e às vezes penas brilhantes de som colorido.

aqui o tempo não manda nada!
tudo acontece da forma projectada pelo grande desenhador
e qualquer traço pode ser apagado e redesenhado tantas vezes...
somos esboços, manchas, borrões, semitons, desfocados, desafinados,
somos todos incompletos e por isso felizes!
ah... já me esquecia, todos temos asas, só que nem sempre as mostramos!

e se por acaso quiseres saber a localização desta outra cidade?
pois bem, olha para os teus pés...
sempre que unes as margens de um rio com palavras e tambores.

BioMelides na feira de Grândola



A BioMelides esteve presente no stand da Junta de Freguesia de Melides na Feira de Grândola.



Foi com muito gosto e com muito calor que apresentámos algumas fotografias do nosso trabalho, tal como o vídeo que estamos a realizar. Fizemos as malas e agora rumamos a Melides.





Chegamos dia 4 de Setembro.


sexta-feira, 21 de agosto de 2015

BioMelides: o cansaço do sol





quando cai o sol de corpo cansado sobre os braços da lagoa,
a água é de ouro, o areal de prata, e o infinito diz-e agora próximo,
porque o mundo todo só existe se for prenunciado pelo menos uma vez.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

BioMelides: do outro lado da duna







Quem os visse a rastejar pelas dunas, de máquina fotográfica na mão, atentos a qualquer movimento nas proximidades, no mínimo ficaria espantado; contudo, para não acalentar maiores especulações, passo a explicar.

Em primeiro lugar - não era nenhuma invasão da costa Portuguesa. Sem pretensões militares esta manobra obedecia a uma motivação maior - chegar perto de uma ave para a fotografar ao nível do olhar e com um enquadramento diferente.
É evidente que nem sempre o estilo é o melhor, até pode não compensar as dores nos joelhos ou nas costas, muito menos a real dor de cotovelo (não confundir com o desidratado da outra)
Enquanto pensava nisto, rastejava avançando uns centímetros com areia pela barba e pelos olhos. Ao mesmo tempo, na linha de praia, um casal bípede andava entretido a fotografar a beleza do areal de Melides e os seus encantos naturais. Quando repararam nos dois tipos rastejantes de roupa de padrão camuflado, que sorrateiramente tentavam ser duna, em avanços lentos e dolorosos, do espanto despertou-se tamanha curiosidade. Foi nesse momento que evidenciámos as fragilidades da nossa presença, e de tanto tentarmos passar despercebidos, fomos alvo das máquinas dos fotógrafos bípedes. E cá vai disto, em rajadas de cadência rápida, fotografados como parte integrante da faunística da lagoa.

As aves sabem distinguir o que é uma duna verdadeira de uma imitação móvel com dores na coluna e reumático, por isso debandaram antes que se levantasse ventania maior. Mas a lagoa continuou a sorrir em cambiantes coloridas, destiladas de um dia onde de novo tudo se anunciou.

sábado, 11 de julho de 2015

Chão




Na volta pela recordação das velhas escolas
afundam-se os olhos na lonjura dos verdes anos
repartem-se rugas pelas lâminas das memórias,
onde foram ensaiadas as primeiras alfinentas dos amores.

Fomos luz em contraluz atrás do pavilhão de ginástica,
aulas furadas pelas frágeis juras além deste céu,
primaveras de vícios e de  tentações efémeras,
poemas escritos nos corpos armadilhados da juventude.

E quando chegava o intervalo ouvia-se a rádio da associação de estudantes
o debitar discos pedidos, discos partidos de coração agridoce,
depois do segundo toque era correria certa escadas abaixo
para festejar a vitória do tempo num abraço apertado.

Beijos de olhos fechados, sem deixar o futuro entrar,
quando as promessas não cabiam no bairro do mundo,
ele ainda hoje se lembra de como começou, ela recorda como acabou,
não fosse a paixão um bicho de colo indomável e tudo se esquecia.

Mais tarde veio a angustia da frase tipo: "precisamos de falar"
uma lágrima a espreitar e de olhos pregados ao chão
separámos as mãos apartámos vidas
e de coração pisado seguimos caminho
em passos lentos porque o chão já secou tantas palavras
sem ter culpa nenhuma disso.


quinta-feira, 9 de julho de 2015

A menina do Priolo






No último sábado de Junho foi encontrada uma criança perdida na avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa. A menina apresentava sotaque acentuado, e pelo que foi possível perceber da voz embargada pelas lágrimas, era oriunda dos Açores e perdera-se dos avós nas avenidas labirínticas da capital. 
Da ténue voz ouviam-se baixinho e entre soluços o nome de uma pensão da qual nunca tinha ouvido falar. As pessoas que passavam não ficavam indiferentes ao desespero da criança e tentavam ajudar mas também ninguém conhecia aquela pensão ou residencial. Perguntámos em vários cafés das imediações mas sem sucesso. Seria aquele o nome correcto da unidade hoteleira? No meio de tanta emoção não estaria a criança equivocada? Perante todas estas dúvidas ponderei entregar a menina à guarda da Policia Judiciaria. Contudo, lembrei-me realizar uma última tentativa junto de um hotel próximo. 

Realmente assim foi. A senhora da recepção tinha o contacto da tão desejada pensão e para descansar a criança ligámos de imediato para o local. A criança correu para o telefone e falou com os familiares. Combinámos então levar a pequena para junto dos seus. Fizemo-nos ao caminho mas durante o percurso a menina estava muito confusa e olhava para todo o lado em busca de referências. Para acalmá-la perguntei-lhe de que ilha era residente. Ela respondeu - São Miguel. Tentei alegra-la, perguntando-lhe se conhecia um passarinho pequenino chamado Priolo. Ela reagiu ao nome, e pelo que consegui perceber, relatou convictamente uma visita de estudo ao Centro Ambiental do Priolo. De seguida abriu os olhos de oceano profundo e da sua face brilhou um sorriso que valia mais do que qualquer outra história. Instantes depois, a menina estava de mão dada com o tio e prometeu-me escrever uma redacção sobre a ave que a fez sorrir entre oceanos perdidos e memórias. 



quarta-feira, 8 de julho de 2015

BioMelides: Striped Hawk-moth (Hyles livornica)



Pelo adiantado da hora, e depois de uma busca pelos candeeiros do parque campismo de Melides, a ronda em torno das borboletas nocturnas não estava a obter o sucesso esperado.


Porém, a surpresa estava reservada para um dos sítios menos prováveis para encontrar estes maravilhosos insectos - a casa de banho das senhoras.


Na janela situada no topo do edifício, a mais de dois metros de altura, era exibida a salvação nocturna: de seu nome "Hyles livornica".


O local onde estava poisada apelava a uma abordagem discreta e segura e foi assim que agimos num malabarismo de escalada pelas paredes da casa de banho. 



Passados alguns momentos de risco hilariante e sempre a olhar para trás não fosse uma senhora entrar e dar de caras com dois homens empoleirados na janela, removemos a borboleta do vidro com cuidado para depois deposita-la num local de mais fácil aproximação.



A noite foi mais longa do que inicialmente esperávamos, e já com o cansaço de um dia vencido e alguma comoção, dizemos adeus à nossa amiga, quando num voo triunfal dirigiu-se a mais uma estrela por descobrir.




sábado, 20 de junho de 2015

Jardins intemporais





Lembro-me da maneira carinhosa com que sorrias com os olhos,
a força das mãos dos teus jardins intemporais,
a calvície que te fazia sempre jovem, 
o cigarro povocador a pender no canto do lábio,
ao desafio em palavras cheias de amanhã;
enquanto recordava os caminhos destas memórias,
um passarinho cantava no topo do cedro mais alto

e nós chorávamos o silêncio que demora a percorrer o caminho de sempre.



terça-feira, 9 de junho de 2015

BioMelides: 4º Episódio




Neste episódio filmámos uma borboleta nocturna no seu voo, abelharucos em escavações e outras curiosas manifestações da natureza.






Também disponível em:


segunda-feira, 8 de junho de 2015

O quarto







Espreito.
a porta do quarto abre-se com o vento,
duas velhas cortinas varrem o chão,
as partículas de luz fazem das paredes
gigantes assustadores de papel,
enquanto as sombras honram o abandono dos móveis;
na cómoda sobrevivem caixas de comprimidos vazias
e um almanaque borda d´agua desfolhado pelas corrente de ar,
por cima, um santinho de porcelana com o nariz esmurrado
olha à sua volta e espera o regresso das mãos,
ao lado, livros apoiados nos livros solitários,
arrumados pela saudade metódica e sentinela das outras coisas:
óculos, chaves, fotografias mais um relógio de bolso,
mete dó o leitor de cassetes e a expiação de uma cassete "tdk" de fita esventrada
tal como as palavras que escapariam
de em copo vazio com uma colher ferrugenta dentro,
por fim o chamamento de que precisava para entrar.
um raio de luz incide no terço...
enrolado em orações e ladainhas de esperança silenciosa.
aqui o tempo é um bandido cadastrado.

Entro.
ao fundo do quarto, na mesa de cabeceira,
uma caneta de voz trémula oscila manias,
pelos cantos da divisão acumulam-se bichos de pó
juntamente com as alpercatas esfoladas no forro,
e um velho rádio do qual ainda se imagina o eco da missa das seis;
há uns anos, este quarto pequenino era nossa sala, cozinha,
cabine telefónica, nave espacial, extra mundo de cúbica dimensão,
naquela altura como ficava feliz ao ouvir a chave a morder a fechadura,
enquanto, baixinho, rezava sem que soubesse rezar, pelo teu regresso ,
com a lua na mão.




sábado, 6 de junho de 2015

Comemorações dos 500 anos da Torre de Belém



Com projecções multimédia assim se vestiu a Torre de Belém nas comemorações dos 500 anos da construção deste ícone da arquitectura militar portuguesa do reinado de D. Manuel I.














quinta-feira, 21 de maio de 2015

BioMelides: Borboleta-zebra (Iphiclides feisthamelii)







Em Melides, quando as árvores de fruto começaram a florir, mais concretamente nas nespereiras do quintal da Dª Júlia, observámos mais uma ilustre visitante - a borboleta-zebra (Iphiclides feisthamelii). Durante o ano podemos assistir ao voo de duas gerações desta borboleta, que apresenta uma envergadura entre 5 a 8 centímetros e na sua alimentação dá preferência aos pessegueiros e às pereiras. Foi um momento tão belo quanto curto. A borboleta-zebra concedeu-nos a honra da sua presença apenas por breves instantes, antes de partir em direcção às coisas que não se esquecem, deixando o tempo suspenso nos pensamentos que voam entre estas e outras paragens.



quinta-feira, 14 de maio de 2015

BioMelides: Borboleta-cauda-de-andorinha (Papillio machaon)






No reino da Dinamarca esta linda borboleta está extinta, mas em Portugal e noutros quantos países é um privilégio assistir ao seu magnífico voo. Estamos a falar da boboleta-cauda-de-andorinha (Papillio machaon), com uma envergadura compreendida entre os 6 e os 8 centímetros, com tons de amarelo, preto e azul nas asas, e com cauda pontiaguda. Alimenta-se de funcho e quando se sente melindrada a lagarta desta borboleta, exibe um órgão apelidado de osmeterium (tipo uma língua bifurcada) para deixar os seus agressores de sobreaviso. Pode ser observada entre de Fevereiro a Dezembro.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

BioMelides: Macrothylacia digramma




Numa noite de Abril o céu estava nublado e a temperatura amena, quando demos início a mais uma busca por borboletas nocturnas no parque de campismo de Melides. De lanterna na cabeça, como quem segue uma pista secreta na escuridão, assim fomos conduzidos pelas borboletas poisadas na vedação, junto aos solitários e laboriosos candeeiros. Depois de várias espécies fotografadas, e após um quilómetro de caminhada, a persistência foi nossa padroeira, quando nos deparámos com esta jóia noctívaga poisada num canto de noite. Sem frio que nos demovesse, o espanto deu lugar ao contentamento da alma.

A Macrothylacia digramma é uma borboleta nocturna que ocorre na Península Ibérica e Marrocos, habita bosques e prados, pode atingir 6 centímetros de envergadura, tem como principal árvore hospedeira a azinheira e apresenta um período de voo entre Abril e Junho.


quarta-feira, 22 de abril de 2015

Café Poema - 25 de Abril e a Liberdade Poética






Amigos,

Aqui chegados e eis o convite para mais um Café Poema.

Vamos falar da liberdade poética e da liberdade que o dia em si comemora.
A poesia livre, sem convenção obrigatória, nem acordo prévio ou arbitrário;
O poema acontece antes e depois de existir momento.

Sejam bem-vindos.




sábado, 18 de abril de 2015

BioMelides: Cogumelos & Fraldas





Os cogumelos que crescem nos troncos das árvores são agentes decompositores por excelência, uma vez que aceleram os processos químicos em torno da madeira morta catalisando o processo de decomposição. Estes cogumelos alimentam-se de celulose e estabelecem relações de mutualismo e de predação com a própria árvore. Mas atenção, o facto de crescerem nos troncos não lhes dá nenhum de certificado de qualidade alimentar – também aqui existem espécies venenosas. 

Uma curiosidade: 

Foi descoberto recentemente pela Universidade Metropolitana da Cidade do México, que os cogumelos-ostra (Pleurotus ostreatus), por se alimentarem de celulose, reduzem o tempo de decomposição das fraldas descartáveis para quatro meses. Se atendermos ao facto que uma fralda pode demorar séculos a decompor-se, estamos perante uma excelente notícia para o ambiente



quarta-feira, 8 de abril de 2015

Quinta do Lago



ao final da tarde, ainda se ouvem grilos e garças em cantos de luz,
tantas foram as penas e as escamas de um dia percorrido na palma da mão,
de máquina fotográfica em punho, músculo de disparo rápido, cantil de água e fruto,
das aves que vimos fica o espírito da memória e das que sonhámos - um outro dia talvez,
pois diz-se esperança quando a espera não desgasta o sorriso inicial.

já no regresso ao corpo da casa,
o céu estende-se em bandeiras vitoriosas e brilham-nos os olhos sem palavras
quando as sombras se agigantam em árvores de um amanhã prometido,
temos todas as horas do relógio que ainda falta ao tempo para voar.



terça-feira, 7 de abril de 2015

BioMelides: O cuco-rabilongo (Clamator glandarius)





Este é um cuco que não faz “cu-cu”.
O cuco-rabilongo (Clamator glandarius) é uma espécie estival nidificante. Esta ave de cauda longa e poupa tímida visita o nosso país predominantemente no mês de Março.




Durante alguns meses leva a cabo um acto de parasitismo ao substituir os ovos dos ninhos das gralhas, pegas e gaios pelos seus, encarregando assim, os incautos hospedeiros de cuidar da sua descendência. Às vezes este cuco sai dos relógios de madeira para nos avisar das histórias intemporais da natureza.






quinta-feira, 26 de março de 2015

Vendaval






oiço o uivo das ervas aquáticas a remexer a garganta do lago
os braços fortes de taboas agitam as raízes feitas de vento,
depois os vendavais estremecem as asas transparentes dos sonhadores
e nada fica sobre nada.

tudo voa para longe da memória num fogo a pique
redemoinhos de cinza entram pelos teus olhos adentro
repito: nada fica sobre nada,
apenas um flor amarela ilumina a  nudez da noite
num assobio de oração ouve-se um silvo suave
tantas vezes dito

até ser silêncio.








M22

  Uma lágrima faz estremecer o vinco do lençol imaculado como uma flor ainda sem nome, há dias em que as palavras são audíveis rasgos ...