sábado, 21 de agosto de 2021

Máquina de parar o tempo


 


pelas mãos do meu Pai 

chegou aos meus olhos a primeira máquina de parar o tempo,

uma Agfa Sinette 1 de estojo elegante e manuseio gentil,

quem sabe, mecanismos secretos de uma dimensão por revelar.


capaz de 35 milímetros de paisagem ainda sem nome,

onde as sílabas reluziam numa ténue linha sonora,

entre casas brancas e postigos de rede salgada, 

agora que seguro na máquina e sinto a doce intimidação...


como um despertar de um espinho em saudade,

a chuva que teimava cair no rebate da nossa porta,

as gotas suspensas no estendal da roupa e aquele suspiro...

tanto que ficou por dizer, entre vendavais e fotogramas.








sábado, 7 de agosto de 2021

entre horizontes



olho para os locais onde não estás,

na conversa dos pinheiros e da sua sombra,

nos bancos improvisados de uma tarde longa,

na margem dos cafés e dos castelos de amigos,


na tua falta, sobrevivemos às feridas deste casco,

arrumamos gavetas com vozes dentro,

procuramos sinais soltos num bailado de uma vela.

num rascunho de uma noite que se espera desfocada.


antes de sair revejo-te espectral, sentado no sofá, 

oiço o eco de mil portas a abrir, 

e recordo o teu aviso: "boa viagem e com cuidado!"


M22

  Uma lágrima faz estremecer o vinco do lençol imaculado como uma flor ainda sem nome, há dias em que as palavras são audíveis rasgos ...