segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Em busca da Gaivota-de-franklin (Leucophaeus pipixcan)



Saí do trabalho alguns minutos após a meia-noite, depois de carregar a bateria da máquina, esvaziar um cartão de memória, deitei-me após as duas e às cinco e meia da manhã já o despertador tocava lá muito ao fundo.
Sem ter tempo para aquecer as almofadas, levantei-me estremunhado, passei água pela cara, não reconhecendo o tipo ensonado que do outro lado do espelho fazia caretas, despachei-me, agarrei na mochila e desci as escadas. Lá em baixo já tinha à minha espera o meu amigo Frade, pelo caminho ainda apanhámos outros companheiros de aventura como os amigos Arinto e Humberto. Destino Vila Nova de Milfontes. O objetivo seria fotografar a gaivota-de-franklin ou gaivota-das-pradarias (Leucophaeus pipixcan). 

Quanto ao fenótipo, esta ave assemelha-se a um guincho, sendo que a principal diferença reside nas pontas pretas das asas. Confesso que não tenho um grande fascínio por gaivotas, contudo por se tratar de uma raridade em Portugal, fez-me esquecer as poucas horas de sono. Já para não falar da agradável sensação de revisitar a terra do meu pai (Odemira), incentivo maior para ver boa gente e confraternizar entre amigos, 

Chegámos às 8:15 a Vila Nova de Milfontes onde o amigo Rui Jorge aguardava-nos pacientemente. Às 8:30 embarcámos na expedição conduzida pelo André Albino da Bture. Principiávamos assim a busca pela gaivota que se escondia nas margens do rio Mira. Sem enjoos ou sobressaltos (houve homem prevenido que emborcou um comprimido para o enjoo), o barco subia o rio deixando antever as margens de uma bucólica paisagem. Nesta sexta-feira de Agosto as águas estavam concorridas com várias embarcações de recreio e pesca lúdica, tal como treinos de canoagem. O que vem comprovar as excelentes oportunidades que o local oferece desde que sejam respeitado o equilíbrio dos ecossistemas e a sustentável convivência entre o homem e a natureza. 

Passados alguns minutos, avistámos a gaivota nos seus ensaios de voo e repouso. O barco fez a manobra de aproximação para que nós pudéssemos registar a ave com alguma proximidade e luz favorável. Foi tempo de sorte e de muitos cliques. O que retenho destas viagens é o convívio saudável entre as pessoas com as suas diferenças e motivações. Observar, fotografar é apenas um pretexto para conviver e partilhar experiências que de outra forma não passariam de um distante "ouvi dizer". Claro, quando os objectivos são alcançados o caminho de regresso torna-se num suave embalo de sorrisos.




Eis o salto suspenso da gaivota e a alentejana luz que a desenhou:






Ainda observámos outras aves como esta garça-real sentinela de um  porto privado.

O percurso efectuado.



Aos reflexos matinais do rio Mira.




Os amigos da gaivota.






Agradecimentos:

Alexandre Cardoso
André Albino / Bture
José Frade
Luis Arinto
Humberto "Hermenegildo"
Rui Jorge
Samuel Patinha





M22

  Uma lágrima faz estremecer o vinco do lençol imaculado como uma flor ainda sem nome, há dias em que as palavras são audíveis rasgos ...