terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O ladrão das más notícias



Lembrei-me dela hoje.
se o amor fosse um erro então podíamos dizer que...
éramos felizes quando arrombávamos o marco dos correios.
para nós era a coisa mais simples do mundo,
uma autêntica brincadeira de miúdos.

Sabes do que estou a falar?
aquelas caixas vermelhas que ficavam ao fundo da rua,
onde as pessoas depositavam as suas cartas seladas,
juntamente com uma reza para que as novidades chegassem antes mesmo de serem enviadas?
essas mesmo! 
mas não te vou dizer como o fazíamos.
é segredo e os segredos morrem com quem ama.
nós que abríamos o marco de correio e ficávamos com as cartas é que sabemos.
está bem, posso dizer-te que utilizávamos invulgares ferramentas, tais como um corta unhas, lembras-te do MacGyverr? era algo do género.


Não sei por que motivo o fazíamos,
talvez fosse para provar que podíamos parar o tempo.
pensávamos que seríamos donos das novidades e dos anseios dos outros.
acho que lá no fundo éramos iludidos pela ideia estapafúrdia do sétimo poder.
não éramos ladrões, quando muito interceptores das novidades locais.
apenas miúdos curiosos sobre o que os outros escreviam, 
roubávamos cartas alheias mas alto lá... 
com dignidade!

Que fique bem claro uma coisa!
só nos apoderávamos de certa correspondência, 
aquelas cartas com o rebordo negro deixávamos estar. 
o respeito pelos mortos acima de tudo.
porém, as outras cartas ficávamos com elas. 
nem te conto...
encontrávamos com cada coisa dentro dos envelopes;
dentes, brincos, anéis, unhas, cabelos, fotos, perfumes, pedaços de roupa interior e por aí a fora!

O mais importante seria a descoberta de muitas palavras 
e das variadíssimas maneiras de as utilizar.
dava-nos um gozo parecido a um orgasmo mas mais prolongado,
não sei se me estou a fazer explicar...
Modus operandi?

Era sempre à noitinha de uma segunda-feira e com já te disse, 
munidos de ferramentas especiais, esperávamos que a costa estivesse livre e... 
um marco do correio era arrombado, enchíamos um saco bem grande de notícias da vizinhança. 
do senhor Alberto e da dona Custódia, tudo malta porreira que habitava a nossa rua e não fazíamos a mínima ideia de como o mundo era tão pequeno.
e depois fugíamos na bicicleta sem travões e de chiadeira tímida até... 


Como estava a dizer,
íamos para a praia de Caxias, deitávamo-nos numa rocha
de barriga para o ar, e descolávamos os selos das cartas que colávamos no corpo nu e na testa um do outro, com cuspo de um beijo mal dado mas muito apetecido,
e de olhos postos no céu, em voz alta, líamos as cartas que depois rasgávamos em mil pedacinhos oferecendo ao mar os restos mortais das palavras.
boas e más notícias.

Não sei porque me lembrei dela hoje!
soube que trabalha a tempo inteiro numa prisão, perto da nossa praia, na cadeia de Caxias. 
já ouviste falar desse lugar?
gostava de falar com ela. 
creio que ela não tenha email e tenho medo de lhe escrever uma carta,
porque sei que alguém a iria abrir antes que ela abrisse os olhos.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

- Divulgação - Lançamento do livro de Angelina Andrade, "Deixa-me Adivinhar-te"

por falar em Poesia,


meus caros Amigos, é já no próximo dia 12 de Fevereiro, pelas 16:00, no Auditório do Campo Grande, 56 em Lisboa, que irá ter lugar o lançamento do livro de Angelina Andrade, "Deixa-me Adivinhar-te"


a obra será editada pela Temas Originais e conta com apresentação do Poeta Xavier Zarco.


por isso, apareçam!


Não era preciso tanto

Não era preciso tanto sofrimento, tamanha dor ou insondável medo, para acreditar em Deus, e nos seus caminhos indecifráveis. veredas inscrit...