sábado, 21 de março de 2020

cerco covid



Dentro do cerco 19

Enclausurados numa esfera que se contrai,
o hábito fechado enamora-se pelo vapor de vidro,
as notícias são trágicas mas já não são notícia,
números e morte numa cruel banalidade virulenta.

O meu pai olha para a rua onde só o sol sorri
a minha mãe varre o chão da cozinha pela vigésima vez,
trabalho a partir de casa numa bolha de mundo virtual,
sitiado pelo músculo tecnológico do distanciamento.

Descubro uma outra casa dentro desta casa
janelas habitadas por uma outra dimensão,
jardins onde cães de trela curta escorregam pelas nuvens
enquanto sombras mascaradas de vizinhos
amparam os prédios do último degrau da solidão.

A primavera que venha de cara e mãos lavadas,
num volver de fé...
este é o cerco esta é a esperança.


M22

  Uma lágrima faz estremecer o vinco do lençol imaculado como uma flor ainda sem nome, há dias em que as palavras são audíveis rasgos ...