segunda-feira, 31 de julho de 2023

Rolieiro-de-peito-lilás

Em diferentes momentos do dia, as cores e África refletidas no rolieiro-de-peito-lilás Coracias caudatus, sereno guardião das estradas do Quénia.











Em Samburu no Quénia, o rolieiro-de-peito-lilás (coracias caudatus) reclamava a posse deste tronco e não saia de lá por nada. Mesmo que a escassos metros, passassem de carro uns tipos estranhos, de fala improvável, de hábitos invulgares e máquinas bizarras que o contemplavam como se tivessem encontrado aquela, a dita lança em África.




domingo, 23 de julho de 2023

O pão do tecelão

O tecelão-de-sobrancelhas-brancas | white-browed sparrow-weaver (Plocepasser mahali), veio debicar o pão que estava no cesto a um canto da cozinha. Sem vergonha e com muita confiança, esta foi uma das aves que observei com maior frequência durante a minha viagem ao Quénia.




quinta-feira, 13 de julho de 2023

Sem praia ou sabor

 

A mulher de lua esfinge estende-se no areal

do seu ancoradouro faz-se abrigo, enseada

nas suas coxas morenas, desertas, os limos

salgam-me a vontade de vazar maré.

 

entreabre-se o rubro bivalve salgado,

deixando antever o brinco pérola rosado,

à espera do toque primordial dos dedos,

míngua pelo aconchego na boca de calor.

 

ah que maleita desgraçada esta!

quebranto febril nesta praia de azar,

cabeça falo que me resta, por ti,

perdi olfato e paladar.


agora sustenho este murcho encanto

de ver passar navios, de farol a quebra-mar.

 

quinta-feira, 6 de julho de 2023

Abençoada febre

 

Não consigo estar quieto!

num frenético desconforto

enrolo-me, cuspo-me para o chão,

idealizo terramotos numa noite eterna.

 

a abençoada febre despe-me dos suores

não gastos em prazeres fêmea.

sou uma mortalha usada e molhada,

nem para charro de rodada me ajeito.

 

com olhar de peixe o médico disse:

“incha, desincha, depois passa!”

pego no receituário prescrito e no verso leio:

“como era se ficasse tudo às escuras para sempre?”



sábado, 1 de julho de 2023

07:04 - 17:04


à boca do túnel urbano

desisto da paisagem subterrânea,

os olhos perdem-se na leitura,

a fome do livro puxa-me a cabeça.

 

lagrimas afiadas molham a página,

os carris embalam a carruagem prenhe:

5 minutos - abre-se a porta ao formigueiro humano

2 minutos - tudo se esvazia na rotina do ganha pão.

 

subo as escadarias em ombros fantasmas,

enquanto sapatos elétricos esquecem-se dos seus corpos,

degraus e mais degraus para ter que voltar,

com nódoas negras deste bulir cerebral.

 

em loop sincronizado, 

viajo na carapaça deste bicho-de-conta mecânico,

vejo-me a subir as escadas elétricas, anestesiado, talvez feliz,

ao mesmo tempo que um outro eu desce, desce, até desaparecer...

 

na ladainha, suave engano.

M22

  Uma lágrima faz estremecer o vinco do lençol imaculado como uma flor ainda sem nome, há dias em que as palavras são audíveis rasgos ...