quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Descobrindo Monteverde



Em Monteverde fiquei alojado numa casa de turismo de habitação de nome Sarita casitas. Os anfitriões, Sara e Danilo, foram muito prestáveis e facultaram-nos preciosas indicações sobre a biodiversidade e costumes locais. Para além da simpatia, a casa apresentava todas as comodidades, desde a sala à cozinha, tudo com muita higiene e eficiência. A água era potável e tínhamos Internet por wi-fi com relativa velocidade. Nas imediações reinava uma calma paradisíaca e a vida corria devagar guiada pelos ciclos e vontades da natureza. Estávamos em Maio, a temperatura rondava os 25º e a época das chuvas já se fazia notar. O dia começava a clarear às 04:50 da madrugada e depois aflorava-se de cores que mereciam ser inscritas no manual de outro arco-íris. Seguia-se uma palete de cheiros que instigava ao movimento e nos fazia ter fome por descobrir e condensar as experiências num álbum de recordações. Pelas 16:00 o tempo fecha-se invariavelmente a toque de uma orquestral chuvada. O tempo tinha a cor das aves e o temperamento impiedoso da chuva. 

Nas minhas incursões pelas redondezas vi várias espécies de aves, mamíferos e insectos. Observei umas espécies mais colaborantes que outras, mas todas elas de redesenhada novidade e beleza. Desengane-se quem pensar que fotografar foi tarefa fácil, uma vez que as constantes mudanças de luz obrigavam a constantes compensações. De resto os bichos não ficavam muito tempo no mesmo lugar - ariscos o suficiente para desespero de quem espere facilidades. Foi curioso seguir os esquilos que pulavam entre as ramagens verdejantes e quase vieram dar-nos os bons-dias, tal como os macacos-uivadores que se faziam ouvir de manhãzinha empoleirados nas árvores altas numa algazarrara territorial. Pasme-se... em Monteverde não senti os braços do vento uma única vez. 

Há quem diga que os Ticos (habitantes da Costa Rica) são povo mais feliz do mundo. Se calhar é verdade, muito embora desconheça como é calibrado barómetro felicidade. Contudo a julgar pelo fácil sorriso, são sem dúvida um povo de contagiante alegria. Tão simpáticos e afáveis que não precisam de exercito para esperar o melhor do mundo e um mundo melhor. É verdade... na Costa Rica não há exército mas vê-se policia com regularidade, posso dizer que me senti em segurança, mesmo exibindo o material fotográfico nunca houve nenhuma situação que causasse desconfiança.
As casas são de construção típica sem ostentarem grandes luxos (excepto mansões dos americanos que por lá ficaram)
O grau de limpeza das ruas, estradas e outros locais públicos é satisfatório. Por onde andei não vi pobreza e ainda bem. Pelo que reparei existe um sistema de educação cuidado, existem aulas ao ar livre,  as crianças usam uniforme (pelo menos as que vi) e circulam muitos autocarros escolares estilo americano (fez-me lembrar o Pesadelo em Helm Street).

Já agora... sabem o porquê dos Costarriquenhos terem a alcunha de Ticos? Há quem diga que tico  é um sufixo utilizado em vez do espanhol tito. Exemplo: gatico em vez gatito, momentico em vez de momentito ou chiquitico em vez de chiquitito


A pé fizemos vários caminhos e aqui estão alguns bichos que vi em Monteverde nas redondezas da casa.



Este foi o primeiro beija-flor avistado.




Ah...  Ora aqui está tico tico (Zonotrichia capensis), um paldal a saltitar na casa de um vizinho.




Na mesa situada no jardim da casa esta fêmea de Great-tailed Grackie (Quiscalus mexicanus) veio provar as bananas


O macho raramente vinha provar a fruta que colocávamos nos comedouros.


Agora os "amarelinhos" como carinhosamente os baptizámos: Em primeiro temos o Great Kiskadee (Pitangus sulphuratus) que alisava as penas com vagar e nada preocupado com a nossa presença.





Por sua vez, o Tropical Kingbird (Tyrannus melancholicus) gostava de empoleirar nos fios de electricidade em frente à casa.


Por último dos pássaros amarelos, temos no fio de baixo o Social Flycatcher (Myiozetetes similis) que tão bem socializava com os vizinhos.




Nos telhados as rolinhas Inca Dove (Columbina inca) quase passavam despercebidas.



Do outro lado o Masked tityra (Tityra semifasciata) observava a geometria das construções.



Nos arbustos situados nas traseiras das casas este casal de Greyish saltator (Saltator coerulescens) veio aprender a falar português.


Yellow-faced grassquit (Tiaris olivaceus) Grande cantor de Cuba



Mountain Elaenia (Elaenia frantzii) sacudia-se dos chuviscos


O pica-pau Golden-olive woodpecker (Colaptes rubiginousus) caminhava calmamente pelo seu poiso.



Um pombo espreitava do seu ninho Red-billed Pigeon ou Pomba-do-méxico (Patagioenas flavirostris)


Já o Emerald Toucanet (Aulacorhynchus prasinus), de tão espantado, parecia que tinha acabado de cortar o ramo da árvore à bicada.


Por fim,  este periquito white-fronted parrot (Amazona albifrons) poisou no ramo de um pinheiro e deixou que nos aproximássemos .. relativamente...


Estas foram algumas das muitas aves que observei em Monteverde. Se quiserem saber o nome de todas as espécies podem consultar a lista realizada pelo amigo José Frade e por ele publicada no eBird. Todavia não foram só aves. Mesmo ao lado da casa ainda dei de caras com alguns mamíferos curiosos.


Este esquilo Variegated squirrel (Sciurus variegatoides) sacudia a árvore com os seus saltos.





Em futuros artigos irei relatar a minha experiência no Santuário dos Colibris, tais como uma Saída Nocturna pela Floresta Tropical, Sobrevivi na San Gerardo Biological Station e a Descoberta de Borboletas Nocturnas, tudo isto em Monteverde onde em cada canto habita um segredo vivo por revelar.

Tudo se passou por aqui, nas imediações de Sarita casitas.





Para finalizar, um brinde à saúde dos meus amigos com a cerveja da Costa Rica. Imperial!











terça-feira, 26 de setembro de 2017

Stella's Bakery - as panquecas e as aves


Nos dias em que permaneci em Monteverde (Costa Rica) tive oportunidade de tomar o pequeno-almoço no Stella's Bakery coffee shop. Um bar muito acolhedor, construído em madeira, com uma esplanada e um pequeno jardim. Foi aqui que provei as fantásticas panquecas com mel - um manjar imperdível. Este restaurante pauta-se por um bom atendimento, onde a simpatia anda de mão dada com a singularidade dos afectos, sinónimo de pura vida.


É sem dúvida um local muito simpático e ainda para mais dispõe de um alimentador para aves. Sem mais delongas pedimos que colocassem fruta nos alimentadores e passados poucos instantes, os bichos não se fizeram rogados, e vieram espreitar o que lhe calhou em sorte. Tal como a gulosa borboleta azul que se entretinha com os vestígios açucarados da fruta, tudo voava em redor da fruta. 

Recordo estes momentos de sabor tropical. Inesquecíveis combinações - tão depressa chovia como fazia sol, a humidade e o calor abriam o apetite acalmando o olhar para um horizonte voador. De quando em vez lá vinham as aves debicar a fruta, enquanto lavrava memórias visuais ao sabor de deliciosas panquecas e café de escuro universo.




Blue-gray tanager (Thraupis episcopus)


Alimentadores para aves Stella's Bakery



Lesson's motmot (Momotus lessonii)



E aqui o Lesson's motmot  no topo da árvore a preparar-se para devorar a fruta nos comedouros.




Ao meu lado surgiu um acelerado beija-flor Steely-vented Hummingbird (Amazilia saucerottei) que por breves segundos esteve entretido a sugar o néctar das flores para depois desaparecer, fazendo parte integrante da segunda pele da vegetação.


Este pardal White-eared Ground Sparrow (Melozone leucotis) andava no chão a ver o que lhe calhava mas cedo se apercebeu que a fruta estava nos comedouros à sua espera. 


Os gulosos preparos da fêmea de Great-tailed Grackie (Quiscalus mexicanus).




O Emerald Toucanet (Aulacorhynchus prasinus) parece não ter gostado da espetada de fruta.



Por isso escolheu os frutos situados no topo das árvores o que dificultou o ângulo de abordagem fotográfica mas o que conta é a intenção.






Por fim chegou o momento da borboleta Blue morpho (Morpho peleides) aproximar-se da fruta, exibindo as asas pintadas de azul eléctrico, contudo esta apelativa iridescência  não passa de uma ilusão de cor e luz.

Agora que termino este texto, fico com vontade de molhar panquecas no café e espreitar novamente por esta janela de sonho.






sexta-feira, 15 de setembro de 2017

BioMelides: Episódio 5



Este foi um conjunto de pequenos filmes realizados no ano passado em Melides e que agora vêem a sua publicação em mais um episódio da BioMelides. Chamo a vossa atenção para o espectáculo proporcionado pelas aves brancas que ao entardecer compõem uma aguarela sobre a lagoa.





quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Em busca do Pilrito-canela (Calidris subruficollis)


No dia 11 de Setembro partimos em busca de uma ave proveniente da América do norte mas que de quando em vez visita a Europa. Passavam poucos minutos das 8:00 da manhã quando entrámos no frenético ritmo da A5 já congestionada em filas infindáveis na direcção da grande urbe. Pacientemente o tráfego foi desvanecendo-se e quando chegámos à Ponta da Erva dirigimo-nos ao local indicado pelos nossos amigos observadores. Lá encontrámos mais um fotógrafo a tentar a sua sorte na demanda pela raridade pilrito-canela. Realmente foi uma sorte o que aconteceu a seguir; uma vez que não vimos o bicho chegar, e logo após uma volta de reconhecimento em torno de várias poças de água, lá estava ele. Nós bem tentámos uma aproximação gradual e discreta mas o bicho estava inquieto não permitindo grandes veleidades. Andámos devagar acompanhando as movimentações da ave e depois de alguns registos fotográficos sempre com uma pauzinho à frente, decidi rastejar para tentar uma abordagem de outro ângulo. É certo que tive que evitar algum resquício de dejecto bovino já seco, porém lá consegui uma outra fotografia mais ou menos representativa da espécie. Sim, podia ser melhor se o pilrito olhasse na direcção da objectiva, se não estivesse uma ervinha à frente da ave, se a luz fosse melhor, se o engenho do fotógrafo  fosse outro, ou até se o bicho viesse desejar um bom dia com a canção de madrugar das aves felizes. Contudo isso seria outra coisa para além das artes de representação da natureza de tantos imponderáveis acasos. 














O pilrito-canela não apareceu mais, entretanto nas voltas incessantes pela procura de ocasiões felizes, encontrámos este bispo-de-coroa amarela a pavonear-se de sol antes de levantar voo.


E ainda assistimos aos voos curiosos de algumas aves.  O primeiro foi um casal de peneireiros-cinzentos que  ao longe trocavam mimos num voar de cortejo. 


Seguiu-se um sisão a cruzar os céus da lezíria anunciando o lento esmorecer da luz.


O dia findou com a debandada das cegonhas para um dormitório não muito longe de certos sonhos.





Agradecimentos:

Frederico Morais
José Frade
Pedro Marques 
Luís Arinto




Não era preciso tanto

Não era preciso tanto sofrimento, tamanha dor ou insondável medo, para acreditar em Deus, e nos seus caminhos indecifráveis. veredas inscrit...