quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Biomelides: Caracol terreste (Helix aspersa)








depois de uma chuvada impiedosa este pequeno caracol tentava o lento equilíbrio por entre sombras e ervas de um microcosmos silencioso. ali residia a beleza dos pequenos pormenores inauditos, o outro lado das coisas, onde as cambiantes de luz conjugavam um abecedário de novos elementos. às vezes sabe tão bem contemplar as pequenas grandes coisas e deixar o tempo ser tempo entre a chuva e a memória.







terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Zero







Fala-me de ti curva perfeita
vamos subtrair os afectos vegetais,
somar os acasos e multiplicar as distâncias
o resultado será um pouco mais que a diferença que nos completa.

Querias dar nome às coisas que não sabes se existem
ambicionavas ser chamada de nada,
para que a surpresa fosse o teu apelido
sabias que para fazer amor bastava tinta e papel
por isso o teu corpo derrete-se na ponta dos meus dedos,
sobrevivendo a temperatura das bocas
que mastigam a espera como uma folha de ópio.

Acredito que acreditas que existo onde possas existir
nem que para isso,
se resuma o impossível que separa os amantes
Nulo é o espaço das letras que nos sustentam
sendo zero muito mais que um circulo que nos cerca.


Fevereiro | 2006




quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Biomelides: Águia-de-asa-redonda (Buteo buteo)





Em Dezembro, andávamos nós pelas estradas de Melides, quando num voo picado e rasante a águia-de-asa-redonda (Buteo buteo) sobrevoou o pinhal poisando com determinação num tronco tombado. E assim ficou durante alguns segundos, o tempo suficiente para registar o instante. O seu porte ronda um metro e meio de envergadura e cinquenta centímetros de comprimento, sendo a mancha clara no peito em forma de meia-lua um elemento diferenciador desta ave de rapina. A sua alimentação consiste em pequenos mamíferos, aves de pequeno porte e répteis. A águia-de-asa-redonda é uma ave abundante em Portugal e pode viver vinte cinco anos. Que assim se mantenha, pois será sempre um privilégio observar o seu voo libertador.



sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Um livro perdido




Alguém esqueceu-se de um livro no banco do jardim.
Um estranho livro onde as palavras não tinham lugar,
Sem histórias ou memórias para recordar
Um não-livro cheio de números e fórmulas,
Da mais Indecifrável bizarria ou simbológica trama.

Uma vez aberto,
Das suas páginas um bafo gélido fazia-se sentir,
De tão mudo e frio secava a imaginação e gelava os ossos.
Repleto de números vivos em filas vertiginosas a escorrer pelas páginas,
Com centenas de símbolos dentro do espanto das folhas:
Triângulos dentro de rectângulos, hexágonos dentro pentágonos, 
Folhas e mais folhas cheias de pontos, tangentes, secantes,
Ângulos rectos e circunferências prenhes assim ⊙ 

Um livro sem abecedário, autor ou chancela
De capa dura feita de tripas de animal secular,
Manuscrito em sangue escuro e papel cru e velho,
Quem queria um livro destes?
Um livro sem amanhã, companhia, aperto d'alma ou aconchego nos olhos?
Quem quereria um livro sem voz?
Por isso deixei-o estar no local onde o esqueceram
E aproveitei o sol de um dia abençoado. 

Dois dia depois voltei ao jardim e chovia solidão em todos os bancos, recantos, caminhos e lagos,
Nem os patos se mostraram ou as orquídeas medravam,
Contudo o livro lá estava no mesmo sítio,
Incompreensivelmente seco.
De leitura virgem e intocável.
De raiva desfolhei-o vezes sem conta, 
De trás para a frente, de cima para baixo, sacudiu-o e atirei-o ao ar,
Sem que uma ideia caísse e com isto veio o frio na espinha a dor e a urgência.
Rendidos ficámos, um na mão do outro, à espera que as histórias parassem de chover.


segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Biomelides: O arrozal





A produção de arroz em Portugal, mais concretamente nas regiões do sul, ocorreu por herança dos muçulmanos.  Séculos mais tarde, a sementeira foi proibida devido ao risco de malária, porém esse medo foi ultrapassado com o passar do tempo das mentalidades. Até ao século XIX a cultura de arroz era realizada de forma clandestina, proliferando pelas bacias dos rios, até que no século XX foram criados os alicerces para a produção de arroz que temos hoje em Portugal. Actualmente,  o arroz é cultivado na bacia do Sado (Alcácer do Sal), na bacia dos afluentes do rio Tejo, no Mondego e noutras regiões mas em menor escala. Como factor de produção agrícola será importante manter o cultivo de arroz em consonância e equilíbrio com todos os agentes da natureza, em prol do meio ambiente sustentável e da biodiversidade envolvente.  


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Novo




Num suave chamamento das cordas
sentes o corpo do nevoeiro
a puxar-te pela mão para o centro das coisas,
onde as memórias vão emergindo
desfocadas, pasmódicas, ensanguentadas de sorrisos,
suspensas em lágrimas de primavera,
numa visão primordial de luz e água.

Ės atingido por uma agulha de som,
os nervos das mãos e do pescoço entumecem, 
as tuas asas oculares digerem a luz,
assistes à pprojecção do ciclo da realidade prometida
um filme com imensos filmes dentro,
tudo é novo, original, imaculado,
sem cor e por isso sem erros.

Sentes-te único,
um ponto crepuscular
prestes a implodir conhecimento  
num infinito que se repete em eco constante,
depois surge a explosão e a queda do branco dos céus 
a película parte-se e finge ser um animal morto,
sem graça, decoro ou pele,
a projecção acaba e a sala abre-se à cor do dia
ficas com a sensação que perdeste algo
nasces antes e depois. 









terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Biomelides: Falo-impúdico (Phallus impudicus)



Falo-impúdico (Phallus impudicus) 


Com um formato curioso este cogumelo frutifica no outono em matos onde o solo seja rico em matéria orgânica. É comestível no seu estado inicial, assemelhando-se a um ovo (ovo de bruxa), depois quando o esporófito está desenvolvido emana um cheiro fétido, sendo completamente impróprio para consumo.

Curiosidades: No reino dos fungos podemos encontrar o maior ser vivo do planeta - o cogumelo do mel. Os números são impressionantes; este fungo mede aproximadamente 880 hectares, qualquer coisa como 1200 campos de futebol, tem uma massa total de 605 toneladas, e estudos recentes apontam para a espantosa idade de 8 mil anos.




Não era preciso tanto

Não era preciso tanto sofrimento, tamanha dor ou insondável medo, para acreditar em Deus, e nos seus caminhos indecifráveis. veredas inscrit...