terça-feira, 21 de novembro de 2023

A luz a que chamamos casa




No esboço do eucalipto escrevi o teu nome,
o chamamento desceu pelo papel de parede
que agora forra o espaço desta solidão,
lar onde recuperas os dígitos da memória.

no lar o cheiro da idade, as auxiliares correm atarefadas,
com medo que o cão invisível da doença
faça tropeçar ou morda os tornozelos
à senhora desorientada que chama puta ao homem da tv.

estas paredes abraçam-nos de humildade,
o carinho corre de mão e mão, a luz é filtrada, de resto...
tudo é bom; a comida, cama, até a companhia,
que nos faz parecer os dias mais pequenos do que são.

hoje fui buscar-te ao lar num carro de fogo velho,
de engasgos vários, com um pneu vazio, vidro partido,
porta bagagens que não fecha e humores nos travões,
isso não importa nada, é já ali, aquele nosso ínfimo firmanento.

Sem comentários:

Enviar um comentário

3:10

Não te liguei para combinarmos o almoço tampouco para salvaguardar o teu bom sono, o telefone reclamou pela tua voz, mas o silêncio de sal s...