quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Distopia





como são maleáveis as ruas desta outra cidade,
distante e subaquática na distorção do olhar de peixe,
tantas são as avenidas de vidro que formigam de plasma incandescente,
cruzando-se com artérias de seiva animada em fluxo eléctrico,
edifícios vegetais que se movem ante a aragem das orbitas planetárias,
anéis de cristal que elevavam a torre transparente ao cume da atmosfera,
em movimentos explosivos de energia em pleno labor industrial,
tal como as pontes ultra-sónicas que se estendem em língua de camaleão
unindo feridas por cicatrizar deste órgão.

aqui o tempo é uma massa reversível, moldável mediante os nossos anseios.
podemos ir e vir àquele doce instante, vezes sem conta sem criar paradoxos.
temos transportes celulares entre a e b em 4 segundos, unidas as membranas e já está!
desejos satisfeitos entre b e c em 2 segundos, consumados entre fluidos de carbono,
aqui não há lugar para a frustração das manhãs elípticas e nebulosas.
não há barreiras, nem muros ou esperanças adiadas,
não há o meu braço mas sim o nosso corpo,
não há a minha janela: antes a nossa casa volátil.
temos dias em que somos  pulmão e coração de pele translucida,
outros escamas prateadas e guelras perfeitas
e às vezes penas brilhantes de som colorido.

aqui o tempo não manda nada!
tudo acontece da forma projectada pelo grande desenhador
e qualquer traço pode ser apagado e redesenhado tantas vezes...
somos esboços, manchas, borrões, semitons, desfocados, desafinados,
somos todos incompletos e por isso felizes!
ah... já me esquecia, todos temos asas, só que nem sempre as mostramos!

e se por acaso quiseres saber a localização desta outra cidade?
pois bem, olha para os teus pés...
sempre que unes as margens de um rio com palavras e tambores.

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