deixei passar os dias,
ainda há pouco ouvi-te dizer
que não conseguias dormir,
as dores laminares puxavam-te as pernas,
para um poço negro sem escada de céu.
com trisreza na voz
e memória rouca,
falámos das proezas
dos médicos
dos anjos
dos amores
e tu dizas: "liga-me quando quiseres!"
"amanhã ligo"
dizia eu para as minhas unhas sujas
pelas crostas arrancadas ao cicatrizar,
adiava o telefonema para falar da fé, da ciência
dos remédios milagrosos por inventar.
partiste ontem.
combateste uma muralha quase intransponível,
foste vitoriosa, imprevisível e corajosa.
como o vazio que floresce amanhã.
Para a minha Tia Edite.