quinta-feira, 2 de junho de 2022

Já chegámos à Madeira, ou quê? Levada do Alecrim

 

A 1200 metros de altitude, a Levada do Alecrim inicia-se na zona do Rabaçal no concelho da Calheta. É uma caminhada que se faz sem muita dificuldade, num terreno regular, tirando uns degraus junto a uma desafiante e bela queda de água. Aliás, a água é o elemento primordial que nos acompanha e que se manifesta em sons vivos e dispersos. A paisagem concede-nos uma massagem ocular que nos transporta para um mundo místico de sedutoras súcubos escondidas na luxuriante vegetação. É uma levada para se caminhar com tempo. No final, o pulmão e o coração abertamente agradecidos fazem-nos sorrir como se estivessemos um pouco mais novos. O percurso tem uma extensão de 6.8.km, ida e volta, que se completam em 2h:30m, num ritmo calmo e contemplativo.












As árvores de longos liquénes suspensos, pareciam indicar o caminho às nuvens carregadas de segredos.


Pela Levada do Alecrim somavamos passos e experiências sensoriais. A cada recando, o maravilhoso mundo dos musgos e dos líquenes surpreendia-nos com os seus pormenores de invulgar beleza. 









Por fim chegámos à Lagoa da Dona Beja, uma magnifica queda de água, na qual tentei congelar o tempo, mas sem grande sucesso,


Tenho amigos optimistas. Confesso estava de nervos espicaçados, a rogar pragas a quem tinha dito que eram 3 quilômetros sempre a direito, cheios de bichinhos por todo o lado, a saltar à nossa frente, contudo, até aqui, o que tinha observado foram urzes, magníficos líquenes e musgos, suportados por uma paisagem assombrosa, contudo faltavam os bichos. Quando nisto tudo mudou. Mais valia estar calado, silêncio e humildade só fazem bem.  Mas já era tarde demais, o mau feitio de vinagrete parvo já tinha transbordado em birra e tive que engolir as pragas e o azedume, quando vi um perfeito encanto esvoaçante.

Aos meus pés uma pequena ave colorida pulava irrequieta. Era a bis-bis (Regulus Madeirensis). Foi um momento de cumplicidade único. O bicho cercava-nos, nunca parou de ramo e ramo, entre o solo e os arbustos, mas colaborou ao ponto de quase pousar na cabeça de um dos meus amigos. Houve momentos em que não conseguia focar, de tão perto que a ave estava da objectiva. Foi a comunhão entre a natureza e uns simples caminhantes que por ali cirandavam atarantados. A admiração que ficámos por uma das mais pequenas aves da Europa foi inesquecível. A bis-bis parecia estar a apresentar-nos a Levada do Alecrim, onde ela reinava como estrela maior.











Mais à frente, quando chegámos à Lagoa da Dona Beja, encontrámos este tentilhão da Madeira (Fringilla coelebs ssp. maderensis). Trata-se de uma ave endémica do arquipélago da Madeira e da Macaronésia; é uma subespécie do tentilhão-comum. Foi um fiel companheiro durante as nossas caminhadas por esta levada e pela floresta Laurissilva.








Um momento de descompressão e de saudável parvoíce.  



O meu agradecimento aos amigos:

Bernardo Silva
Jose Semedo
Silva
Tom


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