23:49 ligo o computador e entro no túnel,
binário, operário onde estão outros trabalhadores,
as coisas avariadas são o sangue deste ofício,
tudo é urgente até à morte do primeiro segundo.
4 horas volvidas, 2 cafés, mãos invisíveis seguram a cabeça,
a casa de banho é uma cabine telefónica em plena avenida,
atendo o telefone como se vendesses farturas, tento resolver,
os circuitos do homem e o homem e os seus circuitos.
desligo o controlador de rede às 08:04,
de olhos vermelhos e boca seca, arrasto os dedos,
tudo parece longe, até a memória de uma cama,
desfeita de lã de vidro e aço a pairar numa outra lua.
ignição corporal, mastigo pão. procuro calar o sol,
ingiro drogas coloridas em embalo de alcofa,
imolado num cartuxo de sono químico,
do qual só espero um tiro na têmpora - rápido!
15:45 acordo com o corpo esmagado pela gravidade,
é dia, os bichos medram mais do que a fome,
um prato branco reclama uma refeição ainda sem nome,
na televisão homenzinhos brincam entre enganos e guerras.
enceno actos atabalhoado, existências alternadas, ereções amansadas,
contactos de raspão, sem tempo para amar, quanto mais para saudar,
in vitro, os outros vivem contra o muro desta ausência,
enquanto eu corro dentro de uma roda imparável, qual ratinho sem destino,
23:51 ligo o cérebro ao computador e sei que o meu nome não é "password".
quando este turno acabar prometo escrever a palavra passe no areal do teu corpo.
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