domingo, 22 de maio de 2022

86

 





os homens nascidos dos antigos sobreiros,

eram baptizados dias após o descascar nocturno umbilical,

a origem de uma vida sem rede ou santo, feita de sulco e cicatriz,

onde as lágrimas eram o disfarce perfeito daquela chuva de verão.


aos sete anos eram meninos trabalhadores,

andavam pelos montes e dormiam na cauda da raposa,

uma rica sardinha era um banquete de irmãos,

e repartia-se meia carcaça em fatia fina pela navalha das fogueiras.


para o estado, aqueles seres eram duplos entregues a eles próprios,

bombas relógios de novas famílias prontas a despachar filhos trabalhadores,

para os pais, tinham fé de que o pão fosse professor e a sardinha doutora, 

mas nada disso importa, quando se nasce duas vezes e a árvore-mãe


nos abençoa num grito.


 





Parabéns meu Pai pelos teus 86 anos!

Sei que aparas os meus disparares numa outra dimensão.






 

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