terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Monólogo da Espera - 4º acto -




acto
(inspira o ar e espera por acção)


Mas a realidade é outra.
O metropolitano está a fechar. As poucas criaturas que passam nestes túneis circulam tão apressadas, já não reparam em mim. Enquanto isso, continuo à espera da Raptora dos Sonhos. Pouco ou nada sabendo a seu respeito. Como será ela?
Apenas retenho pormenores do que escrevi nesta folha, não fossem eles evaporarem-se nos confins da memória.

Ora senão vejamos, recordando:

Uma lupa, um novelo de cordel, uma mala preta.
Um átrio de uma estação do metro com uma esplanada no meio. Marquês de Pombal?
E uma mulher que dizia:

"Inspira o ar e espera por acção, irei revelar-te o segredo dos sonhos.
Se quiseres saber, eu lá estarei.”

Estou ciente que a raptora dos sonhos virá quando lhe apetecer, aparecerá quando melhor lhe aprouver, sem data ou hora marcada.

Agora reparo.
Ali ao fundo.
Vem ali alguém. Um corpo feminino caminha na minha direcção e vem de passada apressada.
Ali vem ela. Sim, só pode ser ela.

Ela diz:
  • Boa Noite. O Metropolitano vai fechar, é melhor sair por aquele lado, a porta sul já está encerrada.

Eu digo:
  • Não pode ser. Estou à espera da Raptora dos Sonhos, dos seus sonhos, dos nossos dos vossos sonhos.

E ela diz:
  • Estou a ver. Mas nestes trajes não pense que fica aqui a dormir. Ou sai a bem ou chamo a Polícia!

Eu digo:
  • Polícia?... Isto tinha que acabar com Polícia? A raptora dos sonhos disse-me “Inspira o ar e espera por acção” Eu vou esperar aqui por ela. Não saiu daqui. Juro!

E ela diz:
  • Se o senhor o diz… Pois que seja. Essa será a minha inspiração. 


     

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