sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Exposição Objectivo Mordzinski





No passado mês de Novembro visitei a exposição Objectivo Mordzinski na Casa da América Latina, em Lisboa. Tinha curiosidade em conhecer o trabalho de Daniel Mordzinski e os seus retratos de escritores ibero-americanos, alguns deles já tive o privilégio de ler. Seria redutor da minha parte afirmar que são "apenas" fotografias de escritores, nas quais estão retratados egos ou personalidades de quem vive do outro lado da "criação" do livro. Estes trabalhos estão muito para além da alma que escreve e da alma que fotografa. ´Creio mesmo, que se trata de uma simbiose perfeita entre dois mundos - aquele planeta de quem escreve com luz e o outro que solta a palavra em tinta domesticada, ambos escritores é certo! 

Oiço os rumores relatados pelas fotografias. O tempo é um frágil desengano de oportunidades. Nas molduras que envaidecem as paredes, surgem indiscretos olhares, numa biblioteca de rostos plasmados em luz morna do fim da tarde. Contemplo a outra pele do escritor e a arte do fotógrafo que transcreve e descodifica a cumplicidade daquele instante. Uns passos mais à frente, no meio de fotografias presas ao tecto por fio de nylon, viajamos numa máquina do tempo onde a foto nos transporta por uma biblioteca de variados nomes e geografias. Para mim a fotografia é uma membrana que selecciona e fragmenta um momento. Um bisturi cirúrgico que retira uma palavra de um verso, que sublinha uma frase de uma página, que  marca uma folha de um romance, ou que namora a capa de um livro por detrás da vitrina de  uma livraria de rua. Contudo, o fotograma nunca resumirá  o livro, uma vez que passa a ser  um"outro livro" quando lido por "outra persona". Foi por isso que gostei tanto destes trabalhos e aprendi com eles, Nesta exposição é-nos dado uma alternativa da capa e de contra-capa e com ela almejamos saber mais (ou ler mais) sobre o escritor retratado. Aqui o instante resulta num outro livro, numa outra história. Ah... Alguém sabe como se liga esta máquina do tempo? Gostava tanto que Daniel tivesse conhecido Pessoa!



Entre corredores e parágrafos da exposição,


... podemos observar o rosto de José Saramago reflectido num pequeno espelho. Genial!




A vista de chão de um corredor repleto de escritores. 



O olhar de soslaio de António Lobo Antunes e um maço de tabaco que descansa em cima da almofada. Apetece-me voltar ao Manual do Inquisidores.


Gabriel García Márquez sentado à beira de uma cama feita e pronta de solidão.


Por intermédio desta fotografia revi Roberto Bolano em "2666", aqui quase camuflado no meio da vegetação quem sabe se à espera dos seus "Detectives Selvagens".


Mário Vargas Llosa, para além da originalidade dos elementos envolvidos e da ocasião, achei curioso o foco da objectiva conduzir-nos para a mão, estando a restante cena ligeiramente desfocada; noutro plano surge o escritor abrigado dos estímulos exteriores. A vela que arde... 


Foi mais forte que eu. Fiquei completamente hipnotizado quando vi a fotografia de  Adolfo Bioy Casares, tentei imaginar a sua estranha máquina de "Invenção de Morel" e a ilha numa espera eterna.


Fotografia arrebatadora. Jorge Luis Borges em 1979, na altura cego, aquando da filmagem de um documentário sobre o escritor; o momento foi registado com uma Nikkormat por Daniel Mordzinski, numa envolvência de luz e pose dignas de fantásticas ficções. 

Rosa Lobato Faria, Eduardo Prado Coelho, Luis Sepúlveda, Agustina Bessa-Luís, Rui Zink, José Luís Peixoto, Nuno Júdice, Valter Hugo Mãe, Sérgio Godinho, são apenas alguns dos muitos retratos de escritores que podemos apreciar.

A não perder até 29 de Dezembro de segunda a sexta das 09:30 às 18:30





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