sábado, 9 de dezembro de 2017

De volta à Serra da Estrela


Aos primeiros dias de Dezembro a Serra da Estrela ainda não apresentava indícios do seu característico manto branco. Nos locais abrigados pela sombra e de maior altitude, nasciam da pedra afiadas estalactites de gelo com vários centímetros. Quando cheguei ao Paul os termómetros marcavam -2, depois nos dias que seguiram, foi sempre a descer até aos 5 graus negativos.  O frio não deixava prenunciar as palavras desejadas e a ponta dos dedos parecia decapitada de sensibilidade. Mesmo assim, procurei aquecer o corpo e a alma ao assistir às comemorações da Santa Bebiana, aproveitando para provar a generosa jeropiga e percorrer as ruas do Paul iluminadas de folia e animação. Contudo, não me saía da cabeça o fogo que por aqui enlutou terras e fustigou os dias. Foi terrível voltar à Serra da Estrela e encontrar uma paisagem onde predominava os tons de cinza, com hectares a perder de vista queimados por fogos que continuam a desgraçar este país; ano após ano, sem um fim à vista, sempre o mesmo erro, o mesmo vício. Se nada for feito, num futuro próximo, nada mais haverá para arder, continuamos a perder o país, todos nós. No meio da biodiversidade estes foram alguns sobreviventes que tive o privilégio de observar. Por certo, se pudessem falar teriam tanto para contar sobre a incúria do homem e dos nossos males de memória. Em revolta...

Uma boa notícia; as gralhas- de- bico- vermelho estão de volta à serra. Gostei de observar um bando de mais de uma dezena de indivíduos a sobrevoar a as imediações da Torre.




Depois foi a vez do voo vigilante do corvo a rondar a terra que não ardeu e a fazer-nos notar que os nossos actos são também as nossas penas.



O tordo-zornal era um dos objectivos fotográficos. Nas Penhas da Saúde e depois de uma espera considerável ao lado de uma tramazeira com algumas bagas, eis que as aves deram um ar da sua graça.



Almocei em Manteigas onde degustei "Migas de Feijoca" a acompanhar umas febras grelhadas, muito bom por sinal. Antes de tão saboroso repasto contemplei os voos cíclicos do melro-d´água pelas margens do rio gelado.






Para culminar, no meio das sombras dos pinheiros surgiu a mui desejada estrelinha-de-poupa, tão irrequieta que fotografá-la foi um desafio deveras complicado, quase um jeitoso torcicolo. 







Agradecimentos: 

José Frade
Ana Frade






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