sábado, 26 de dezembro de 2009

mandrágora



um vulto em forma de mulher desagua na mandrágora repentina
esperei dias pelos dias numa dor silenciosa
arrastando-me pelas paredes surdas
passando incógnito por entre tanto fogo de artifício dos outros
explodindo nas bocas de incêndio que enfeitavam as festas solitárias
longe quedo a um canto mirando o desastroso tédio da noite
sabia onde estavas mas não…
não passei por aí
nem procurei colher uma pétala do teu nome
nem uma palavra
nada era tão bom como o vazio de um copo morto no trago triunfante
houve tempos que coleccionei-te na lamela microscópica de quem pergunta porquê
depois desisti
quando a resposta era sempre a mesma
porque sim
não havia mais nada a dizer
mas talvez houvesse
e eu dizia-te
“o que o mar leva a maré traz”
lembras-te?
hoje cruzámos sorrisos numa mesa de café
assim sem mais nem menos como quem diz olá tudo bem então como vais
fizemos figas cruzámos os pés
para que tudo fosse melhor do que realmente é
e para que não nos afogássemos na teia da realidade
há quem diga que somos assim
uma vez irmãos, irmãos para sempre
de armas, livros, sombras, corpos de partos diferentes
mas um café e um copo com água chegaram para matar a sede
que o silêncio nos obrigou a engolir
não fossem os nossos pais os mais discretos incógnitos viajantes
nunca teríamos sido amantes.
e isso não cabe em nenhum bilhete de identidade.

2 comentários:

  1. Comentário por: M
    mvlouro@gmail.com

    2010/01/06 at 1:09 pm

    Olha para trás…
    Não sentes que cresceste…?
    O mundo gira e nós crescemos.
    Doi tanto crescer, estamos sempre a nascer e a morrer…
    Por vezes é cansativo
    No entanto numa gota de tempo num espaço ausente revivemos o quanto fomos felizes…O passado…
    é tão importante sentirmos o quanto fomos amados…
    e descobrir que continuamos a se-lo, mas num outro formato!

    Mas mais importante é sentir que como na natureza nos transformamos.
    sem perder a essencia a lagarta vira borboleta.

    Existem pessoas que fazem parte de nós, porque são parte da nossa construção como ser, que sabem o quanto nos custou crescer e perceber que poucos são aqueles que nos entendem…
    Somente um semelhante, não nos chama loucos.

    O génio criação vive dentro de nós, sem ele morremos com ele não conseguimos viver.
    Só quando o assumimos como parte, conseguimos esfregar os olhos e vislumbrar o futuro…

    Sem medo dou-te a mão e aceito-te irmão.

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  2. Comentário por: Sérgio Guerreiro
    sergionguerreiro@gmail.com

    2010/01/07 at 4:10 am

    tu sabes
    eu sei
    fomos o que tempo deixou
    às vezes calmo outras agitado

    e
    umas vezes
    olhos de praia
    [ outras
    olhos do palco
    [ à noite
    olhos da casa
    [ também
    olhos nos olhos
    [ da lágrima
    e

    tu sabes
    eu sei
    que por mais que ensinemos a vida a falar
    o que conta é o sorriso
    em que te reencontro sem te ver
    só.

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