Aconselho a quem tenha filhos pequenos a leitura destes
contos antes de dormir, ou melhor, a qualquer hora do dia ou da noite. Todos os motivos são bons para se iniciar uma leitura de um livro único como este. Como não tenho filhos, nem
pequenos nem graúdos, eis o motivo do meu conselho, porém muito mal
explicado.
Ah! Se fosse possível voltar atrás no tempo...

Quando era petiz, este era o livro que eu gostava que me
tivessem lido na comunhão entre pais e filho. Tal não aconteceu porque na altura as posses não eram muitas para se gastar com livros. Havia outras prioridades como a comida na mesa, cama e roupa lavada. Hoje tive a sorte de puder pegar neste livro e dedicar-lhe tempo. Durante 220 páginas habitei histórias
fantásticas percorrendo de vigília caminhos estranhos e desafiantes. Depois da leitura
surgiu a rendição, a calma com que aceitei o final do dia e entrei na esfera do
irrepetível.
Talvez sejam contos para crianças grandes, crianças adultas mais rabugentas
do que as crianças pequenas. A leitura rejuvenesce o cérebro e convida-nos a
ouvir uma outra voz - a voz que lê, a voz que embala.
Na moral o bem nem
sempre vence. O que é bom. O mal é também é um participante e muitas vezes
vencedor na maratona da nossa vida. Perdi-me tantas vezes no corpo destas
páginas e encontrei-me em várias geografias, fazendo parte das coisas
inanimadas ou de reinos improváveis.
Ouvi o lamento de um fantasma honesto e de um arrogante foguete a reclamar da sua sorte dentro de uma poça de lama. Andorinhas a atrasarem o seu
voo migratório de regresso de uma missão inaudita. Um gigante egoísta que ganha
o seu lugar no Paraíso. Nestas leituras, os pintarroxos e rouxinóis são obreiros de
feitos incríveis. As fábulas ganham contornos verossímeis. Como por mágia literária, as estátuas e as ratazanas obtêm voz própria, tal como o vento, o granizo e a neve. E não acaba por aqui o festim de ficções; as árvores
envaidecidas enchem-se de crianças nos seus ramos cimeiros para celebrar a
primavera. Ao dobras o vinco da página, ouvi relatos da beleza que foge do corpo de um homem e que regressa
quando ele assume a humildade da finitude. Nestas páginas escutei o canto da
sereia com que um homem se enamora e pelo qual é capaz de quase tudo. Comovi-me
no conto onde o Amor de um filho em busca da Mãe é levado à provação máxima. Os Contos de Oscar Wildeo acompanharam-me em estranhas horas de longos dias, de luar turquesa,
porque serena é a voz que da leitura ao espelho.
