domingo, 11 de fevereiro de 2024

A pedra azul







As pedras das chacras respiram em cima da mesa de cabeceira,

enquanto a imunoterapia é inoculada na tua mão,

no hospital, há olhos de esperança que já foram rios de lágrimas,

ao mesmo tempo, o respirar da doença faz estremecer paredes já sem sombra.


nos cadeirões os pacientes aguardam que o químico ocupe o corpo,

amanse o mal, abra portas, prolongue a hora para além a rua do mundo;

não te posso fazer companhia,  por isso viajo para a sala de espera,

onde aguardar não dá tempo que o pó dos anjos contorne a nossa fé.


quando acabou o tratamento fui buscar-te,

tiraram-te o cateter e marcaram no teu cartão a próxima visita, 

peguei-te na mão, porém, amanhaste o caminho sozinha,

antes de sair, desejei as melhoras aos ocupantes das máquinas salvadoras.


na ambulância de doentes não urgentes lembrei-me de uma senhora 

de lenço na cabeça que estava num cadeirão ao teu lado,

tinha um olhar fixo entre o céu primaveril e o azul marinho,

olhos tão frios quanto perdidamente belos. a senhora ficou lá... 


em casa, as pedras aguardavam um toque para se animarem.





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