As pedras das chacras respiram em cima da mesa de cabeceira,
enquanto a imunoterapia é inoculada na tua mão,
no hospital, há olhos de esperança que já foram rios de lágrimas,
ao mesmo tempo, o respirar da doença faz estremecer paredes já sem sombra.
nos cadeirões os pacientes aguardam que o químico ocupe o corpo,
amanse o mal, abra portas, prolongue a hora para além a rua do mundo;
não te posso fazer companhia, por isso viajo para a sala de espera,
onde aguardar não dá tempo que o pó dos anjos contorne a nossa fé.
quando acabou o tratamento fui buscar-te,
tiraram-te o cateter e marcaram no teu cartão a próxima visita,
peguei-te na mão, porém, amanhaste o caminho sozinha,
antes de sair, desejei as melhoras aos ocupantes das máquinas salvadoras.
na ambulância de doentes não urgentes lembrei-me de uma senhora
de lenço na cabeça que estava num cadeirão ao teu lado,
tinha um olhar fixo entre o céu primaveril e o azul marinho,
olhos tão frios quanto perdidamente belos. a senhora ficou lá...
em casa, as pedras aguardavam um toque para se animarem.
Sem comentários:
Enviar um comentário