Houve um dia que uma voz me chamou
para junto de um circulo imaginário
de putos como eu, seduzidos
pela fogueira remanescente da luz e aplauso.
De birra feita não fui.
Intimidado pelos olhares tranquei o beiço,
e contemplei ao longe aquele senhor mais alto que as outras cabeças,
de microfone na mão, a encantar uma plateia rendida
da sociedade recreativa da Rebelva.
Depois de desarmar a teimosia vim a saber que era o Senhor Fado,
dono da voz que embalava as agruras de uma nação,
de canto firme e ao mesmo tempo capaz
de esculpir paisagens sonoras intemporais.
Foi a primeira que assisti a um concerto,
recordo o Senhor Fado a cantar no meio de uma roda de putos,
num circulo luminoso onde crepitava a melódica poética;
hoje o frio é mais frio e a fogueira rasa os nossos olhos
mas não se apagou o lume do fado muito menos a sua voz.
Para o Senhor Carlos do Carmo.
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