segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

O Senhor Fado

Houve um dia que uma voz me chamou

para junto de um circulo imaginário

de putos como eu, seduzidos

pela fogueira remanescente da luz e aplauso.


De birra feita não fui. 

Intimidado pelos olhares tranquei o beiço,

e contemplei ao longe aquele senhor mais alto que as outras cabeças,

de microfone na mão, a encantar uma plateia rendida 

da sociedade recreativa da Rebelva.


Depois de desarmar a teimosia vim a saber que era o Senhor Fado,

dono da voz que embalava as agruras de uma nação,

de canto firme e ao mesmo tempo capaz 

de esculpir paisagens sonoras intemporais.


Foi a primeira que assisti a um concerto,

recordo o Senhor Fado a cantar no meio de uma roda de putos,

num circulo luminoso onde crepitava a melódica poética;

hoje o frio é mais frio e a fogueira rasa os nossos olhos 

mas não se apagou o lume do fado muito menos a sua voz. 


Para o Senhor Carlos do Carmo.

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