Um estranho livro onde as palavras não tinham lugar,
Sem histórias ou memórias para recordar
Um não-livro cheio de números e fórmulas,
Sem histórias ou memórias para recordar
Um não-livro cheio de números e fórmulas,
Da mais Indecifrável bizarria ou simbológica trama.
Uma vez aberto,
Das suas páginas um bafo gélido fazia-se sentir,
Das suas páginas um bafo gélido fazia-se sentir,
De tão mudo e frio secava a imaginação e gelava os ossos.
Repleto de números vivos em filas vertiginosas a escorrer pelas páginas,
Com centenas de símbolos dentro do espanto das folhas:
Triângulos dentro de rectângulos, hexágonos dentro pentágonos,
Folhas e mais folhas cheias de pontos, tangentes, secantes,
Ângulos rectos e circunferências prenhes assim ⊙
Ângulos rectos e circunferências prenhes assim ⊙
Um livro sem abecedário, autor ou chancela
De capa dura feita de tripas de animal secular,
Manuscrito em sangue escuro e papel cru e velho,
Quem queria um livro destes?
Um livro sem amanhã, companhia, aperto d'alma ou aconchego nos olhos?
Quem quereria um livro sem voz?
Quem quereria um livro sem voz?
Por isso deixei-o estar no local onde o esqueceram
E aproveitei o sol de um dia abençoado.
E aproveitei o sol de um dia abençoado.
Dois dia depois voltei ao jardim e chovia solidão em todos os bancos, recantos, caminhos e lagos,
Nem os patos se mostraram ou as orquídeas medravam,
Contudo o livro lá estava no mesmo sítio,
Contudo o livro lá estava no mesmo sítio,
Incompreensivelmente seco.
De leitura virgem e intocável.
De leitura virgem e intocável.
De raiva desfolhei-o vezes sem conta,
De trás para a frente, de cima para baixo, sacudiu-o e atirei-o ao ar,
Sem que uma ideia caísse e com isto veio o frio na espinha a dor e a urgência.
Rendidos ficámos, um na mão do outro, à espera que as histórias parassem de chover.
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