sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Uma viagem de hidrohide no Alqueva



Junho 2014 - Alqueva



Quando chegámos a Mourão ainda se ouviam os ecos de um madrugar feito de Cante Alentejano e montes solitários. À nossa frente o Alqueva abraçava o que outrora foi campo aberto e planície. O sol despertava e nós estávamos preparados para um novo desafio - conduzir um hidrohide, ou se preferirem, navegar dentro de um esconderijo aquático.

Para tal preparámos o corpo e a alma para a entrada na lagoa, sem frio ou medo que nos detivesse. Contávamos com a indumentária adequada: um fato de pescador que depois de vestido ajustava-se ao corpo como uma segunda pele. Após a adaptação ao fato, havia que perceber como manobrar o hidrohide; aquela engenhoca de formato curioso que se assemelhava a um pequeno iglu. Tratava-se de uma estrutura bastante leve, com a base em fibra de vidro, coberto por tecido de padrão militar e rede camuflada. Estava assim criado o mais perfeito mimetismo flutuante. No interior, um pequeno postigo permitia espreitar, mais a baixo, um suporte para a máquina fotográfica servia de tripé que mantinha o conjunto, câmara e lente, perfeitamente manobrável. De lado, o espaço era exíguo, mas permitia acomodar alguma fruta e uma garrafa com água. 

Volvidos os preparativos e os receios de uma primeira vez, levámos a estrutura para dentro da lagoa. Devagar lá fomos nós empurrando o hidrohide, como se fosse uma oferenda em memória dos sonhos do Alqueva. Foi fácil apanhar o jeito e sem frio que nos amedrontasse conduzimos confiantes em busca de motivos para fotografar. Quem nos visse naqueles preparos, dizia que andavam à deriva pela lagoa pequenos "ilhéus-humanos". Contudo, creio que ninguém tenha reparado nos protagonistas deste estranho fenómeno. Enquanto isso, carregávamos o nosso disfarce dentro de água, sem perder o pé. Depois de algumas manobras aquáticas conseguimos uma aproximação satisfatória a várias espécies. Nivelando a objectiva com olhar do bicho e com isso obtendo ângulos com diferentes abordagens fotográficas. Algumas aves não tiveram medo, outras fugiram, porém, todas demonstraram uma curiosidade pelo "ilhéu" que as observava. 

Durante horas percorremos o perímetro da lagoa, desenhamos rotas e aproximámo-nos das margens. Rastejámos numa postura anfíbia, quase nadámos e até metemos água dentro do fato mas não molhámos o equipamento fotográfico. No final o resultado foi satisfatório muito embora o esforço físico tenha sido bastante elevado. 

Três amigos fizeram esta viagem, todos com expectativas e visões diferentes da Barragem do Alqueva. No final do dia houve quem caísse, quem risse e houve ainda quem desejasse voltar já amanhã. É desta fibra que são feitas as saudades.

Fomentar novas vertentes do turismo é cada vez mais importante. Viagens de hidrohide para observação e fotografia de aves, tal como outras iniciativas ligadas à natureza, são actividades que podem dinamizar toda uma região, fazendo face a preocupações mais prementes como são o desemprego e por consequência a desertificação. Nunca é tarde para ver e ouvir o que Alentejo tem para oferecer.


A voz do Alqueva chamou pelas aves e elas vieram; 
para que não se esqueçam de quem já sonhou ali.



Quando o sol cobre de oiro os lagos do Alqueva


a magia da luz redesenha os seus habitantes


Mergulhão-pequeno (Tachybaptus ruficollis)


Colhereiro (Platalea leucorodia)



Colhereiro (Platalea leucorodia)



Gaivina-de-bico-preto (Gelochelidon nilotica)



Gaivina-de-bico-preto (Gelochelidon nilotica)



Garça-boieira (Bubulcus ibis)


Garça-boieira (Bubulcus ibis)


Garça-branca-pequena (Egretta garzetta)


Garça-branca-pequena (Egretta garzetta)


Garça-real (Ardea cinerea)


Frente a frente: garça-real e colhereiro  


Perna-vermelha-comum (Tringa totanus)


A camuflagem perfeita do cortiçol-de-barriga-preta (Pterocles orientalis)


Frente ao hidrohide eis que surge uma família de mergulhões-de-crista



Ali está um "ilhéu-humano" a espreitar


a curiosidade que se esconde nas margens



Mergulhão-de-crista ( Podiceps cristatus)



Mergulhão-de-crista ( Podiceps cristatus)


Até a pequena libelinha-de-olhos-vermelhos poisou no trânsito das algas  


Libelinha-de-olhos-vermelhos (Erythromma viridulum) 


Antes do dia ser memória, as sombras foram cirandando dando vida aos bichos e aos hábitos 




Uma viagem de hidrohide no Alqueva - o filme.






Agradecimentos: Naturalqueva


Sem comentários:

Enviar um comentário

papoila de corda