sexta-feira, 18 de julho de 2014

XVI









Sentámo-nos a contemplar a fortificação antiga;
calmamente bebíamos os olhares por entre um copo de cerveja
recapitulando, sem saber, gestos de tempos idos.
de quando em vez:
dos teus lábios de nuvem surgia o mar ainda novo,
do ombro nu - o flanco de sol em maré cheia de esplanada,
no teu pulso de oiro - o relógio parado num tempo líquido,
do teu tornozelo queimado -  subiam algas de andarilho. 
depois disto,
o calor das palavras queimava a boca dos nossos segredos
esvaziando as horas iniciais.  

No forte São Julião da Barra,
onde há séculos o sol repete a mesma história;
trágica comédia de amores desavindos
com tantos encontros perfeitos e outros finais.
ali, estava escrito nos corpos de areia e no pó das estrelas
que ano após ano, naquele dia e àquela hora, tudo voltaria a acontecer, 
sem que encontrássemos diferenças
entre personagens deste ou de outro tempo,
porque no final tudo volta ao mesmo,

apenas diferem as máscaras e as sombras.




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