quarta-feira, 4 de junho de 2014

Inquietude por excelência


Quando me convidaram para escrever e declamar um poema para a cerimónia de entrega dos Prémios Excelência aos filhos de colaboradores da Portugal Telecom - aceitei o desafio com muito orgulho. 
Porém, estava ciente que nem sempre temos a lua ou a sorte para escrever "aquele poema", mesmo quando procuramos o melhor momento para tal. Isto porque não existe - o momento certo. Muito menos, palavras que traduzam a urgência de escrever "o tal poema".  Assim, depois de muitos esboços e rascunhos, nasceu a Inquietude por excelência, inteiramente dedicado ao mérito dos alunos com extraordinário aproveitamento escolar. Aos obreiros do futuro deste país, aqui deixo estas humildes palavras.


Numa plateia repleta de excelência e mérito,


ouviu-se um simples poema 



Inquietude por excelência




De onde vens?
na mansidão de horas calmas,
do nome da terra e de todas as nuvens que desenhamos ao longe,
do local onde foste dia, para além das noites em claro,
em bibliotecas construídas no topo das árvores,
onde nos ramos das estantes mais altas,
os livros concretizavam impossíveis em páginas de vento;
nesse local de abecedário infinito,
surge na curva do teu olhar um brilho.
esse é o engenho com que se ergue um sorriso
e se fecha um caderno diário de conquistas.
Tu vieste da terra onde as portas são voadoras
e as janelas mudam de céu a cada tempo teu.

Agora que olhas para trás e pensas:
- Aqui cheguei!
pelo esforço do dia-a-dia,
feito fogo na palma dos olhos,
de tantas cidades dentro de cidades,
onde crescer para fora das fronteiras
é o grito que precisamos de ouvir em silêncio;
Assim...
do livro, do estudo e do prolongamento da mão,
das ruas desenhadas a régua e esquadro e dos seus passageiros binários;
tudo pode acontecer numa folha quadriculada.
Já para não falar dos bichos-carpinteiros que te obrigam a roer o lápis,
de nervoso miudinho, ou até da falta dele,
sem perder um minuto de atenção pois a atenção não se perde sozinha:
dos comboios de sensações e das suas fórmulas indecifráveis,
das escolas, das universidades, dos intervalos, das pautas, dos colegas,
do toque de entrada, ao toque do telemóvel, da mensagem adiada,
e da nota conquistada na órbita do sonho,
dos beijos e abraços que quase tudo diziam,
forrados em papel memória e doce afecto.
Estás aqui.

Por fim, no calmo aconchego,
onde nasce o sorriso de soslaio do pai e o orgulho triunfal da mãe,
outros dizem em surdina: “Está feito um Homem!” Ou “Ah grande Mulher!”
Porém, como será amanhã?
depois destas explosões de mar à vista e terra prometida,
após tantos rascunhos e quimeras;
Como será?
Há outra luta, é verdade, mas que seja de inquietude por excelência;
porque até aqui meus amigos, vocês foram fazedores de sonhos!




2 comentários:

  1. Olá Sérgio,
    Caí sem querer aqui e, deslumbrei...
    Quanto talento e amor!
    Abç
    Lua Singular

    ResponderEliminar

M22

    Uma lágrima faz estremecer o vinco do lençol imaculado como uma flor ainda sem nome, há dias em que as palavras são audíveis rasgo...