segunda-feira, 13 de maio de 2013
Jogos Solitários
Nunca tive muito jeito para jogos.
Com o berlinde abafador de mundos quase nunca acertava nas covinhas escavadas na terra. Consequência de tanto falhar o alvo acabava por perder as preciosas esferas de vidro para os meus rivais. Também nunca consegui terminar a combinação mágica do cubo Rubik, mesmo fazendo batota, arrancando os quadradinhos coloridos, porém quando chegava a altura de montar o cubo com as cores arrumadas por faces, havia sempre uma peça que não encaixava. As mais altas construções de Lego não me deixavam ficar mal, contudo não era um jogo; a não ser quando destruía as torres maiores e as peças voavam para longe e passava semanas a procurá-las. No mundo dos puzzles só me aventurei uma vez, todavia não gostei da resistência do material quando molhado em leite.
No jogo dos quatro em linha perdia para a minha prima. No jogo da bisca, com cartas de naipes proféticos, perdia para a minha avó e no dominó perdia para o Sr. João. Só de recordar esses momentos, apetece-me jogar e perder e voltar a perder de novo, para recomeçar um outro jogo onde se ganha saudade e memória.
Os jogos de futebol de rua correram bem até ao dia em que tentei um pontapé de bicicleta mas um defesa da equipa adversária deixou-me com o pé esquerdo virado para a direita. Nunca mais dei um pontapé como deve ser, remate colocado ou de bico. Depois vieram os jogos de computador. Nessa fase lembro-me de deixar uma namoradinha adormecer ao meu lado, enquanto esperava que eu terminasse um nível de elevado grau de dificuldade. Só ela para acordar antes que eu conseguisse matar o último monstro, o mais terrível e sanguinário boss; talvez por isso ela dizia: “despacha-te, vamos ao café!”. É importante dizer estas coisas para que não digam que tenho mau perder.
Sempre escolhi jogos em que perder sozinho seria um mal menor. Ainda hoje é assim. Escondo-me em abrigos no meio do mato. Ilhas no meio do nada onde ninguém reclame a incerteza da vitória. Fico horas a fio à espera que apareçam bichos para jogar comigo. Nessas alturas o melhor que me pode acontecer é que não apareça ninguém a falar de pé.
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