terça-feira, 1 de novembro de 2011

Fernando Pessoa na praia de Carcavelos

Outubro 2011,

Em Manukau, Nova Zelândia, uma menina brincava com um elástico azul entre os dedos, até que o elástico se soltou e foi projectado a dois metros de distância caindo num poço profundo. Na impossibilidade de recuperar o seu brinquedo a menina chorou e no seu antípoda:

Praia de Carcavelos.

Depois de uma chuvada intensa uma onda gigantesca levantou-se no horizonte.
Ao ver um enorme corpo de mulher que se levantava sob a forma de maré viva no horizonte, os transeuntes que assistiam a uma demonstração heróica de surf fugiram para o túnel subterrâneo que atravessa a Marginal, abrigando-se da força brutal da maré que se aproximava.

E assim, com estrondo, as esplanadas, os quiosques que ainda vendiam gelados fora de prazo,
foram varridos pela força descomunal do mar, desaparecendo numa espuma branca furiosa.
Sem piedade, a areia, as escadas, o empedrado e até o passadiço, tudo foi desventrado pela sopro ímpio de uma onda com mais de vinte metros de altura.
Algumas pedras foram arremessadas a mais de oitocentos metros da praia, caindo perto da estação dos comboios.

E o corpo de uma alga gigante cobriu a marginal no sentido Cascais Lisboa como se uma enorme cabeleira ruiva de uma deusa grega descansa-se sob a estrada.
Enquanto que, peixes e polvos foram parar à Quinta dos Ingleses, levados pela mão feminina da onda branca descontrolada.
A Protecção Civil não tinha lançado nenhum alerta, mas depressa helicópteros e lanchas foram enviados da Capitania do porto de Lisboa para apurar a dimensão da tragédia.

Quando a maré desceu e o mar permitiu os primeiros bombeiros desceram até à praia.
O que viram?

Outubro de 1924
A Praia de Carcavelos, num hiato de tempo dimensional, onde Fernando Pessoa passeava por entre a fina membrana de espuma que dividia o passado do presente. Dez minutos depois o arrebol pintou a realidade de Athena e tudo voltou a ser partícula actual. No chão um elástico azul boiava numa poça sem reflexo. Ninguém apanhou o elástico e naquele dia ninguém se magoou.

1 comentário:

  1. Oh Sérgio: Cada vez gosto mais dessa vertente realistico-fantastica- surreal! Fernando Pessoa na praia de Carcavelos em 1924! Só foi pena que o elastico azul, não tivesse sido sido transformado em K4 Quadrado Azul, pelo ALmada, o de Negreiros, que entretanto ali chegara, vestido de Arlequim, dançando em pontas o Vira do Minho...

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papoila de corda