quinta-feira, 20 de junho de 2024

A tua porta

 

oiço o lamento na brancura da porta onde tu eras tu,

com a janela aberta o vento empurra abecedários,  

as dobradiças abrigam à fuga do tempo melodioso,

o som só é interrompido pelo músculo da fechadura.


fico à espera que tu segures na porta branca e digas...

fico à espera que circules no corredor apertado e suspires...

espero ver-te mais uma vez junto à janela a olhar para...

fico à espera que me chames filho.



sábado, 8 de junho de 2024

Só hoje, trovoada sem iva


 as nuvens tropeçam umas nas outras

das janelas cinza irrompem roucas trovoadas,

quebram-se vitrais, caixilhos e taipais,

promovendo a preocupação dos anjos...


com a lâmina da chuva nas penas brancas,

e a fragilidade da nossa cabeça.

sábado, 1 de junho de 2024

A roupa de luto

 


Dobro a roupa sideral, a tua última indumentaria feliz,

construo montanhas com peças do teu vestuário,

ordenadas por estação, na página gasta do colchão,

as mãos choram o linho que te serviu de aconchego.


eu luto e dizem-me que isto é fazer o luto!

choro pelos dias que nunca mais serão nossos, 

pelas sestas da tarde e pelos nossos incógnitos almoços,

chamo-te, grito-te, acordo-me de joelhos na realidade.


fecho a porta do teu quarto para que a roupa respire,

a luz imensamente branca, o tamanho da tua falta.

 

Quando a terra chamou

  Dormia sob o respaldo dos antidepressivos quando um tremor sacudiu a cabeça da cama, enleou-se nos meus pés com a força das algas vivas, s...