sábado, 23 de março de 2024

Uvas cegas das tuas mãos

 

Por mais mimos com que te adorne

na visita ao cadeirão do hospital,

as dores não te largam o corpo,

o mal aperta o cerco, não te deixa em paz.

 

sem veres, procuras as uvas no prato,

os dedos trauteiam uma busca melodiosa,

por fim, levas à boca, porta dos afectos,

o fruto e o sumo dos teus quintais.

 

pedes dúzias de vezes: "filho leva-me para casa!"

eu respondo: "só o senhor doutor é que sabe quando!"

porém, no sentido das coisas indecifráveis,

apenas Deus nos acalma quando silencia o vento suão.

 



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