quinta-feira, 7 de abril de 2022

Um ano depois





O brilho afiado das lâminas retém a fisga de sol matinal,
hoje deixei repousar em vinagre branco as tuas ferramentas,
para que a ferrugem não corroa a memória do bom homem,
fazedor de acasos amigáveis em conversa de café.

Ainda te procuramos ao virar da curva das seis,
nos suspiros pela escada, num pigarrear de catarro antigo.
a chave na fechadura e o fim da tarde feito em passos lentos,
para depois perguntares pela esquadria da simplicidade perpétua:

"Então?"
Ah... nessa interrogação cabia a nossa vida de silêncios e de portas por abrir!
Meu Pai... que faço eu com o formão, serrotes, plainas
e todos os utensílios que arrancam lascas ao tempo e soltaram serradura no vazio?

Não sei como dar forma à arte da carpintaria,
como tu deste vida ao pequeno pinheiro,
que agora cresce em madeira nobre e selvagem,
na tua direcção.




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