quinta-feira, 23 de setembro de 2021

A raiva de um euro

 

(Um senhor, à frente do supermercado, vê-me a colocar as comprar no carro e pede-me um euro.)


Ah como fico irascível, cego, descontrolado, 

com os miolos a espreitar pela narina,

aperto o pescoço a quem não calo,

de ironia tão parva quanto fina.


bem sei cavalheiro… devia ser mais contido!

monossilábico, por mordomia, indiferente,  

mas se nada digo fico de corno despido,

com uma mão atrás e outra à frente.


tal falsa modéstia despertou a fúria e o veneno,

salguei a ferida da palavra e saboreei a crosta estaladiça, 

com estas ações tronei-me homem ainda mais pequeno,

que em coisas sem jeito tanto dinheiro desperdiça.


(Coloquei as compras na bagageira do carro, fui arrumar o carrinho vazio. Lá estava o senhor, homem muito maior que eu, de máscara na cara a deixara antever, rugas de expressão no olhar.  Ofereci cinquenta cêntimos ao senhor que me tinha pedido um euro e do qual ri e ironizei, não por estar a pedir, antes pela quantia exata que me tinha solicitado. O senhor não aceitou a minha moeda à primeira, contudo depois pegou nos cinquenta cêntimos para fazer troco a outro cavalheiro benfeitor, a quem à segundos tinha cravado a mesma quantia, a tal marota moedinha.) 


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