quinta-feira, 15 de abril de 2021

O Carpinteiro do Sol

 





Pelas escadas sobe o silêncio marmóreo,

espero ouvir o barulho das chaves,

acompanhado pelo pigarrear da tua chegada,

mas a porta não voltará a abrir-se,

pelas mãos calejadas 

de quem carpintejou na perfeição a madeira,

procurarando a janela mais próxima deste céu.


Cá por casa...

o tempo faz-se lento,

sobra o eco dissonante da tua falta,

o cristalino azul dos teu olhos - doce mar,

sem rotinas, os objectos assumem-se tristes,

de manhã, a torradeira já não te chama,

com o pão dourado a pingar manteiga,

à tarde, os tapetes alinhados, a cadeira vazia,

à noite, a manta alentejana dobrada e fria.


Tu eras o homem bom que não temia a morte,

apenas a imobilidade e o embaciamento dos dias,

que enfrentavas em busca dos caminhos de sol,

guiado sempre pela vontade férrea de caminhar

e fazer da simpatia da rua um altar.


Ah meu Pai…

a descontracção do teu sorriso faz-nos falta!

como uma chave que dá voltas e voltas, 

neste músculo fechado e ferido que nos mantêm à tua espera. 






Para o meu querido pai -  Viriato José Guerreiro






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