domingo, 15 de novembro de 2020

Com finamento

nesta tarde de confinamento

só as trepadeiras ousam sair de casa 

de costas voltadas à árvore que as desafia,

do outro lado, expiamos o vapor da nossa existência,

atrás de uma janela somos máscaras do nosso medo,

frágeis ornamentos de filigrana neste cerco de contágio.


de pés descalços pela ciência o fosso de afectos aumenta,

beijamos com os olhos e acariciamos o vácuo digital,

a comunicação regenera-se no conforto de um aceno familiar,

as notícias ambicionam ser uma nova religião.


perguntamos quantos morreram hoje?

como quem questiona o que é hoje o almoço;

depois disto... diluímos o medo nos números e até...

creio que o vidro e o metal ficaram mais frios

e o sangue mais escuro.


para me entreter...

desenho o que seria um sorriso ou talvez um balão,

mas fico-me por um circulo que ambiciona ser sol:

os livros fecham-se, os estores caem, as luzes cansam-se.

a televisão mete-se na cama comigo, 

enquanto o computador desfaz-me a máscara humana.


nesta tarde...

o bicho  esconde-se num manto de nevoeiro

e vergonha.

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