nesta tarde de confinamento
só as trepadeiras ousam sair de casa
de costas voltadas à árvore que as desafia,
do outro lado, expiamos o vapor da nossa existência,
atrás de uma janela somos máscaras do nosso medo,
frágeis ornamentos de filigrana neste cerco de contágio.
de pés descalços pela ciência o fosso de afectos aumenta,
beijamos com os olhos e acariciamos o vácuo digital,
a comunicação regenera-se no conforto de um aceno familiar,
as notícias ambicionam ser uma nova religião.
perguntamos quantos morreram hoje?
como quem questiona o que é hoje o almoço;
depois disto... diluímos o medo nos números e até...
creio que o vidro e o metal ficaram mais frios
e o sangue mais escuro.
para me entreter...
desenho o que seria um sorriso ou talvez um balão,
mas fico-me por um circulo que ambiciona ser sol:
os livros fecham-se, os estores caem, as luzes cansam-se.
a televisão mete-se na cama comigo,
enquanto o computador desfaz-me a máscara humana.
nesta tarde...
o bicho esconde-se num manto de nevoeiro
e vergonha.
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