domingo, 15 de julho de 2018

Sexta-feira 13 com os Queens Of The Stone Age, The National e tanta sorte




Talvez por isso... não seja capaz de passar um dia sem música. Ainda agora, enquanto escrevo, dos auscultadores emana uma melodia calma, uma companhia musical que me segreda ao ouvido estas palavras e outras intenções. Talvez por isso... A música seja para mim um alimento emotivo sem o qual não consigo tolerar a sagração dos dias. Creio que... pela música não haja bandeiras, fronteiras, ou divisões e quando tentam compartimentar o que é indivisível, ela musicalmente prova que é um corpo só. A pulsão que nos faz ir, que nos completa e satisfaz, ao mesmo tempo que clama por mais. Dançante e inebriante, Um chamamento tantas vezes incoerente, dissonante mas também melódico, harmónico, pessoal e transmissível. Acredito na melodia dos astros e das estrelas, a pauta dos átomos e das células, o orquestral ribombar do universo. Talvez por isso... Sejamos todos (uns mais do que outros) musicais, afinados ou desafinados, tanto faz, tentando sobreviver a estes dias com uma melodia o mais agradável possível. 

Da música vem um paladar, um sabor especial que se discute e se materializa no dia do concerto, na hora da actuação - a verdade bem à frente dos olhos. Vibrámos e pulamos com a coração a saltar pela boca e o sangue a correr pelos membros que desconcertados tentam se soltar do corpo, fazendo dançar a alma. Talvez por isso, preciso deste remédio para tolerar tudo o resto e como eu...

Por estes dias, habitantes de uma improvável torre de babel espraiavam-se pelo  passeio marítimo de Algés para assistir ao Nós Alive ´18. Gente de todos os "cantos" do mundo reunidos pela musicalidade dos afectos, na busca daquela preciosidade emotiva que tanta falta lhe faz. Musica-me por favor!

Ah e como queria muito assistir a um concerto dos Queens Of The Stone Age!!!!....  por isso comprei o bilhete para a sexta-feira 13, uma supersticiosa conspiração de sorte e momento. 

Quando cheguei ao recinto percorri os cantinhos em busca de novidades. Gostei muito do saudoso coreto, calcorreei a calçada portuguesa com edifícios lusitanos, espreitei os vários palcos, encontrei de tudo um pouco, desde o punk ao fado, numa combinação e romaria perfeita. Disse olá e recebi saudações em vários idiomas e sorrisos e por ali andei até os pés me doerem. O primeiro concerto que assisti foi o dos Black Rebel Motorcycle Club do qual apreciei a onda "noisy" e psicadélica (Whatever Happened to My Rock and Roll)




Estava à frente do palco quando começou o concerto dos The National (quase tugas com15 concertos por cá) - e que concerto. Estes nossos amigos foram do silêncio à impulsão sónica de uma forma maleável, sabendo dosear as emoções. Tocaram no coração da audiência (About Today e Terrible Love) como fossem  a própria audiência, misturam-se no exorcismo colectivo (Bloodbuzz Ohio), falaram do medo, da perda, da insondável falta das coisas boas desta vida de uma forma simples e poética.



Depois vieram os Queens Of The Stone Age e com eles um tremor de terra sonoro, uma descarga de energia suficiente para esquecer, por momentos, qualquer dor ou tormenta e para nos renovar de energia e de mundo sonoro. A música apresentada por estes senhores do rock não é simples, nem pode ser. Por vezes, a formula apresentada é rude, agressiva mas também sexy e cheia de experiências bem sucedidas e incursões dançantes (If I Had a Tail) por outros paralelos (Make It Wit Chu). A música é assim, e por isso nos faz bem (até aos calos). Foi uma hora e meia repleta de agulhas sonoras (A Song for the Dead e My God Is the Sun) espetadas nas orelhas numa onda de prazer e abandono. Metáforas (sofríveis) à parte - Foi um concerto muito bom. Tanto mais, foi por eles que decidi desafiar uma sexta-feira 13 e sair de casa, passar por debaixo de uma escada e cruzar-me com um adorável gato preto. 




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