domingo, 14 de janeiro de 2018

O Sacrifício de um Cervo Sagrado



Este foi o meu primeiro filme do ano e fiquei com a sensação dúbia, entre o que para mim é um filme que cumpre o proposto de entreter, sem grandes pretensões; e uma película que trazemos para casa com perguntas por responder e com imagens que nos mordem os olhos. Comigo aconteceu um pouco das duas coisas com a última obra de Yórgos Lánthimos - O Sacrifício de um Cervo Sagrado.


 O filme principia com uma operação de peito aberto onde o músculo cardíaco demonstra toda a sua força vital. Com o desenrolar da acção somos convidados para os meandros de uma família onde os diálogos e os gestos robotizados fazem parte de uma mecânica engrenagem desprovida de emoção que nos intriga e estranhamente nos seduz. A família perfeita é composta pelo papá médico cardiologista (Colin Farrell), pela mamã (Nicole Kidman), pela menina (Raffey Cassidy) e pelo menino (Sunny Suljic) depois surge um estranho rapaz (Barry Keoghan) que se aproxima do médico para resgatar a sua vingança,


As provocações, a chantagem e o terror psicológico começam quando o rapaz vai apertando o cerco ao médico, para depois entrar no seio familiar, namoriscar a filha, culminando com uma bizarra oferta, insinuando a sua mãe como uma boa amante numa chantagem mortal.

Este estranho rapaz é o filho de um antigo paciente que morreu por negligência na mesa de operações do cardiologista. Como tal, o rapaz deseja que seja feita justiça pela morte do pai; morte essa eventualmente causada por alcoolismo do médico. As consequências estão à vista. Primeiro os filhos deixam de andar, depois um deles sangrará dos olhos e por fim alguém terá que ser sacrificado. O cardiologista vai ter que escolher entre  o membro da sua família que vai morrer. Neste cenário negro de vingança a banda sonora clássica e industrial adquire uma força brutal. A grande angular abre as cenas de uma forma visceral e pinta de desconforto o cenário. A culpa e a vingança andam de braço dado, onde bem vistas as coisas, todos os cervos têm os olhos estranhamente azuis.

Entre (desnecessários) momentos de expiação e culpa, retive os seguintes instantes: O bizarro fetiche do papá cardiologista que gostava de fazer amor com a mamã quando esta se fingia dopada por uma anestesia geral. O estratagema da mamã para apurar mais sobre o passado sombrio do marido, ao satisfazer os caprichos do pseudo-amigo e anestesista. O arrastar das crianças pelas divisões da casa, em deambulações junto dos pais, apresentando as suas apologias, evitando assim serem escolhidos para o sacrifício. E a estranha ideia da mamã ao dizer que podiam matar uma criança, uma vez que ainda estavam em idade de fazer outra. Enfim quase uma tragédia grega.

Este texto não serve de crítica cinematográfica, apenas é um relato meramente pessoal entre o escuro do cinema e a sétima arte.



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