Percorria
a avenida em busca de uma livraria
escolhia
um livro que já tivesse lido
e
corria para casa junto ao parapeito da janela
recordava
aquela altura
em
que as páginas não eram pesadas e os risos fáceis e lia
até
que o horizonte fosse esquecimento fio de noite
e
o gato a provocasse para uma última brincadeira
por
fim juntos adormeciam sem frio.
Às
vezes só e ela
dizia: Tu também.
ia
ao cinema onde adormecia com as vozes que nada lhe diziam,
guardava o bilhete que pendurava numa árvore pequenina
junto
à mesa cabeceira,
onde
os santinhos eram adornados pela queda da cal das paredes
ali
coleccionava o tempo que regava todos as horas.
tomava
uma aspirina com receio que as dores lhe pudessem gritar
o
quanto estava viva,
e
cortava os pés às flores que lhe ofereciam às escondidas no
hospital
tinha
mais medo de manhã do que à noitinha
e
esperava que nada lhe doesse mais do que os pés.
praia, bairro, rua, caminhadas por entre assobios e palavras ditas à desgarrada,
praia, bairro, rua, caminhadas por entre assobios e palavras ditas à desgarrada,
nomes
bonitos, nomes feios, lágrimas escondidas, sorrisos de crucifixo e
ladaínhas.
nada
importava porque ela continuava a somar dias aos anos e anos aos dias
por entre corredores e portas que deixavam escapar ecos de esperança.
Sempre só ela
dizia: Nós também.
Setembro 2009
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